Eu soube

Arquivo pessoal. Foto em Santiago em Ago/2015.

A gente ainda usava SMS. O brasileiro tinha acabado de começar a migrar do Orkut para o Facebook. Antes desse fenômeno migratório tecnológico acontecer, eu já usava a rede do Mark Zuckerberg para jogar Máfia Wars e tinha como metade dos meus contatos desconhecidos de diversos países que faziam parte do meu grupo de mafiosos.

Nessa época, todo dia alguém conhecido te adicionava. Um dia foi você e por algum motivo a gente começou a conversar. Muito antes do messenger ser um aplicativo, a gente já trocava muitas ideias nele. O Messenger do Facebook foi pouco para caber nossa vontade de comunicarmos. Logo a gente foi para o sms, Skype e chegamos até usar uns serviços tipo o Tinychat. Era conversa que não acabava mais.

A gente se viu e continuou se vendo quando dava. Eu mostrava suas mensagens para minhas amigas e a cada dia você ganhava espaço, enquanto os outros perdiam. E um dia eu soube que o espaço já era todo seu. No outro dia, começamos a namorar. Um mês e meio depois, dissemos eu te amo um para o outro.

Depois eu soube que o amor é uma história contínua. O início não conta nem um terço de uma história de amor. Todo dia a gente descobre novas formas de cuidar, de acariciar, de compartilhar. Juntos, potencializamos o que o outro tem de melhor. Juntos, a gente aprende mais da gente e do mundo. Juntos, a gente explora sabores, prazeres, lugares e o tédio. Juntos, a gente se apoia e se desafia. Mesmo seis anos depois, eu ainda descubro que é possível amar mais ainda. Com você, eu descobri que o amor é algo de todo dia.

Eu te amo tanto que eu sequer sei escrever sobre nós. Todo ano, até eu ser a melhor escritora do mundo, eu vou tentar, sem sucesso, transferir para o papel o amor que sinto por você. Todo ano, durante a tentativa, eu vou molhar a blusa de lágrimas de emoção, porque as lembranças de nossa história estão no meu corpo, sendo sentidas, mas seguem incapazes de serem escritas. Todo ano, eu encontrarei ainda mais amor para transformar a ocitocina em palavra. Todo ano, eu vou tentar, porque você merece o meu melhor texto, mas você só ganha essas cartas incompletas, mal redigidas e status no Instagram. Mas o que importa mesmo é que, todo ano, eu quero estar ao seu lado.


Esse texto é uma carta de amor que escrevi para o Lucas Michelini por causa do nosso sexto aniversário de namoro. No “Amor como trajetória”, eu comentei que não escrevo mais sobre o amor há anos, que só restaram as cartas e os zines. Por isso, dividirei com vocês uma das cartas, porque é o que tem. Mas lembrem-se que todas as cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.

Publicado por

Thaís Campolina

O que falta em tamanho sobra em atrevimento. Isso foi dito sobre um galinho garnisé numa revista Globo Rural dos anos 80, mas também serve pra mim.

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