
A fascinação que os gatos exercem na humanidade não é nova, vide egípcios e o popular personagem Garfield, mas nos últimos anos, com a ajuda de vídeos fofinhos que donos de gatos compartilham sem parar nas suas redes sociais, eles viraram verdadeiras estrelas. Por isso, “Vida de gato” chama tanta atenção.
Com essa graphic novel traduzida por Raquel Moritz para a Darkside, o quadrinista belga Serge Baeken chega ao Brasil com um trabalho que, de certa forma, homenageia os gatos que passaram pela sua vida. Inspirado em Mascavo, que esteve com o autor durante 18 anos, ele apresenta uma narrativa focada em simular a perspectiva felina das coisas.
Com desenhos espetaculares, essa história em quadrinhos surpreende por não ser simplesmente um conjunto de relatos fofinhos de amizade entre gatos e humanos. Ao contrário do que esperamos inicialmente, as histórias contadas nesse livro são, no geral, trágicas, como são a vida da maioria dos gatos.
Apesar de ter amado as ilustrações e até mesmo a premissa da obra, o roteiro que Serge Baeken construiu não me cativou como eu imaginava. Como apaixonada por gatos e cães, me incomodou um pouco a maneira que o autor explorou essas histórias trágicas como uma questão natural, como se todos aqueles desastres evitáveis fossem uma parte invariável dessa relação de gatos e pessoas.
Como humanos, costumamos viver mais do que nossos companheiros de outras espécies e, por isso, conforme vamos envelhecendo acompanhados, acabamos também acumulando saudades. De certa forma, ter a companhia de animais de estimação nos coloca num lugar em que acabamos obrigados a nos preparar para lidar com uma perda que vai vir mais cedo ou mais tarde. Falar dos bichos que vivem com a gente, então, acaba sendo também uma maneira de falar sobre morte, acidentes, ausência, risco, saudade e amor, mas, no caso do quadrinho, talvez tenha faltado uma certa sensibilidade na abordagem.
As homenagens ficaram com cara de inventário e o que poderia ser um trunfo acabou não funcionando tão bem assim, provavelmente por causa da nossa nova noção de cuidado de animais domésticos. Ainda assim, fica evidente para o leitor que todos os gatinhos que passaram na vida dos personagens deixaram sua marca de alguma maneira.
Esteticamente “Vida de Gato” é impecável, mas ao menos para mim, as histórias de aventuras felinas de agora precisam ser fantásticas quando envolvem rua, porque a realidade não é nada agradável para os bichanos que vivem assim, ou, se realistas, centradas em gatos de casas e apartamentos protegidos por telas. Mascavo viveu muito, mas isso foi por pura sorte, como o destino dos outros gatos desse quadrinho parece nos dizer. Talvez a força dessa história esteja justamente nessa reflexão tão incômoda sobre cuidado e os riscos da vida felina.
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