
Descobri a Calamity Games através do financiamento coletivo dos jogos Metro e Merlin no Catarse. Ao ler sobre o projeto, notei que as pessoas por trás dele eram duas mulheres, Paula Soares e Marina Mattos. Não é todo dia que posso unir minha veia “valorize as minas” com meu hobbie preferido, por isso, aproveitei para fazer essa entrevista.
O que é a Calamity Games? Como surgiu? Qual a origem do nome?
A Calamity Games é uma editora de board games, localizada em Belo Horizonte, que publica jogos para o mercado nacional. Somos grandes amantes de board games e achamos que esse mercado seria um bom investimento. Nosso principal objetivo é fornecer aos nossos clientes o que gostaríamos de receber como consumidores.
As investidoras e empreendedoras da empresa são todas mulheres e procuramos uma inspiração feminina que nos representasse. Foi assim que chegamos à personagem da Calamity Jane, uma mulher pioneira e destemida da História do faroeste americano. Ela fez de tudo um pouco, foi generosa e desafiadora e achamos que seria uma boa representação nossa e para o que queremos fazer: causar calamidade no mercado.
Os jogos Metrô e Merlin estão no catarse numa campanha de financiamento coletivo flexível feita por vocês. Vocês podem falar um pouco sobre os jogos, a escolha pelo financiamento coletivo e as metas estendidas?
O Merlin foi um grande sucesso na feira Spiel de Essen (Alemanha) no ano passado e achamos que seria um ótimo jogo de peso para trazermos. É um jogo pra jogadores um pouco mais experientes, não necessariamente pela complexidade, mas pela quantidade de possibilidades de ações e estratégias. Apesar disso é um jogo para a família e pode ser jogado com crianças de até 10 anos.
O Metro, em contrapartida, é um jogo que foi renovado pela Queen cuja caixa básica já vem com 4 expansões. É um jogo bem leve e ideal para iniciantes. Você consegue explicar o jogo em 10 minutos e as partidas são curtas. Também é um jogo que comporta até 6 pessoas, enquanto a maioria dos jogos é para até 4 jogadores. Uma das expansões faz o jogo mudar completamente, e adiciona um grau de complexidade maior que os jogadores experientes vão gostar e os iniciantes podem começar a evoluir. As expansões também são combináveis o que cria muitas possibilidades de jogos.
Escolhemos o financiamento coletivo exatamente por sermos uma empresa iniciante. Achamos que com isso ganharíamos visibilidade, credibilidade oferecendo segurança aos nossos clientes, em comparação com uma pré-venda realizada diretamente no nosso site, por exemplo. Vendendo diretamente ao cliente também poderíamos oferecer preços melhores e atrair mais pessoas a experimentarem os jogos.
Como os jogos já estão prontos e não são protótipos, não podemos oferecer melhorias nas metas estendidas, por isso achamos uma boa oportunidade pra oferecer alguns acessórios e fidelizar nossos clientes.
E os próximos planos da Calamity Games? Dá pra adiantar alguma coisa?
Bem, ainda queremos manter o suspense sobre os lançamentos, principalmente porque só queremos anunciar quando estiver absolutamente certo que o jogo vem. De preferência, só faremos o anúncio quando já estiver em produção.
Temos uma parceria sólida com a Queen Games e pretendemos trazer o máximo de jogos deles possível. Mas também queremos trazer jogos de outras editoras menos conhecidas. Já temos um jogo de uma estreante holandesa, um jogo consagrado de uma editora americana e temos contato com uma editora indonésia. Achamos que os jogos são uma experiência cultural e queremos jogos bem variados e que façam uso de diferentes habilidades.
O jogos de tabuleiro agradam vocês por quais motivos?
Paula: Acho que pra mim é uma atividade de lazer, um hobbie, que promove a interação com pessoas reais, a competição de uma forma saudável e desenvolve habilidades e raciocínio de maneira divertida.
Marina: Os jogos de tabuleiro hoje em dia para mim são a minha maior conexão com os meus amigos no Brasil, o que faz essa atividade 10 vezes mais especial. Mas como a Paula disse, gosto da forma como eles são uma forma divertida de desenvolver o raciocínio e estratégia.
Quando vocês começaram a jogar? Teve algum jogo que funcionou como um divisor de águas?
Paula: Acho que jogos modernos comecei no início da década de 2000. A gente começou vendo programas de jogos na internet e importando o que dava. Acho que o divisor de águas não foi um jogo, mas quando começaram a surgir editoras fazendo versões nacionais dos jogos. Aí o acesso cresceu exponencialmente.
Marina: Eu comecei a jogar com a Paula e os nossos amigos! Eles me introduziram na jogatina e daí meu interesse foi crescendo dia após dia. Mas o jogo que me fez ver que eu gostava mesmo desse hobby foi o Catan que é pra mim o clássico dos clássicos.

Quais são os jogos preferidos de vocês hoje?
Marina: Pra mim ainda é o Catan, pois é um jogo que agrada todo mundo e é bom para se aprender o que são os jogos modernos, afinal, não é à toa que está aí há muitos anos. Além disso, estou sempre aberta a testar os jogos infantis e sou apaixonada por jogos de zumbi.
Paula: Nossa, acho que meus favoritos vão sempre mudando. Um que me apaixonei recentemente foi o Alquimistas. É um jogo dedução com a temática de alquimia, que eu adoro. Você tem que descobrir a natureza das plantas usadas pras poções. Mas acho que Lords of Waterdeep é um do qual nunca canso.
Hoje há aplicativos de jogos muito conhecidos. De cabeça, me lembro do Ticket to Ride, Black Stories e Tsuro. Vocês gostam dessa alternativa?
Acho que aplicativos são bons para ajudar as pessoas a conhecerem os jogos. Falar de um jogo e jogar são coisas bem diferentes e nem sempre existe acesso ao jogo para uma partida de experiência. Então através do aplicativo você tem acesso à mecânica geral do jogo e pode ver se gosta ou não. Mas acho que a substituição do jogo analógico pelo virtual, mata metade do propósito dos jogos de tabuleiro. A ideia é realmente sair do virtual, jogar e interagir com pessoas de maneira física. Mover as peças, olhar a cara do adversário, rir, fazer piada. A experiência de um jogo analógico é muito mais completa.
Um dos jogos que estamos trazendo, o Metro, tem uma versão de aplicativo bem legal. Quem quiser conhecer, fica aí o convite.
Curtem jogos online?
Marina: Eu adoro jogar Playstation e jogo todo domingo online com um amigo. No momento estou jogando Life is Strange que é um jogo sobre uma estudante de fotografia que descobre possuir a habilidade de voltar no tempo em qualquer momento, fazendo com que cada escolha sua crie um efeito borboleta; uma premissa muito interessante.
Paula: Eu gosto de MMORPG. Joguei muito WOW. Mas sou uma jogadora casual, mesmo jogando há muito tempo. Gosto da história, do ambiente, das missões da exploração mais do que da construção de habilidades e tal.
Temos visto muitas mulheres reivindicando espaço nos jogos online e fazendo denúncias sobre assédio e machismo do meio. Essa reação das mulheres jogadoras se dá muito pelas discussões sobre esses temas terem ganhado o mundo, vocês acreditam que o machismo afeta também o mundo dos jogos de tabuleiro? Vocês acham que essas discussões também tem impactado positivamente a comunidade dos jogos analógicos?
Com certeza há muito machismo nos jogos de tabuleiro também. Existem algumas iniciativas muito legais no sentido de promover um espaço seguro para as mulheres jogarem como o Lady Lúdica, LudoGirls e BoardGame Girls que fazem eventos em que homens não são permitidos ou são minoria. Se esses eventos existem e permanecem é porque há uma necessidade de espaços onde as mulheres são protagonistas e não “acompanhantes”. É fácil ver atitudes machistas não só dos jogadores individuais, mas também de lojas e eventos.
Como uma empresa formada e comandada por mulheres achamos super válido essas iniciativas e temos a intenção de apoiar e participar assim que possível.
Com certeza essas iniciativas fomentam discussões. Já vi muitos homens espantados, sem entender a necessidade de um evento só de mulheres, ou mesmo criticando a iniciativa (o que só reforça a necessidade de um espaço seguro). Os eventos são para as mulheres, mas eles fazem os homens pararem e pensarem, ou até discutirem sobre o assunto. E a solução do machismo não é a segregação; é a conscientização.
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