Bacurau: comunidade, rituais de morte e resistência

Obs: o texto contém alguns spoilers.

Cena do filme

Bacurau, filme de Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é sobre muita coisa, inclusive sobre a morte, seus rituais e o impacto disso numa comunidade fictícia localizada no oeste pernambucano. Já nos primeiros minutos do filme, nos deparamos com um caminhão pipa que carrega água potável destruindo caixões de madeira caídos na estrada, um corpo e um caminhão que carrega caixões tombado e cercado de pessoas pegando a carga. A morte ronda Bacurau. Ela está próxima. Esse é o aviso e ele funciona. Tudo aquilo que se relaciona com a morte e seus símbolos é encarado pela nossa sociedade como um mau presságio, ainda que morrer seja parte indissociável da vida, e está ali nas primeiras cenas.

Na cidade, a morte já se faz presente. Dona Carmelita (Lia de Itamaracá), 94 anos, está sendo velada em casa, com parentes, amigos e conhecidos ao redor. A morte está próxima, é triste, mas é encarada ali como um momento de despedida, homenagem e reforço de laços afetivos. Diferente do corpo anônimo na estrada, que é visto de maneira distante e triste simplesmente. Ainda que ambos sejam colocados como algo inevitável que faz parte da vida.

O ritual de morte de dona Carmelita é, apesar de tudo, tranquilo. Tirando a interferência de Domingas (Sônia Braga), outra idosa, que parece sentir muito aquela partida. Talvez a idade da falecida contribua para isso. Afinal, a velhice avança e a proximidade com a morte passa a ser lembrada o tempo todo pelas próprias pessoas e também por quem próximo. Talvez a personagem, com sua sabedoria, já tivesse preparado o terreno para aquilo. O bolo que Carmelita faz antes de morrer e Teresa (Bárbara Colen), sua neta, come com a irmã após o velório parece dizer isso. Ela deixa afeto para quem ainda ia chegar e não poderia ter a chance de se despedir dela em vida.

Quase toda a cidade participa da celebração/ritual de morte, nos mostrando que a falecida é uma espécie de matriarca e referência. Tem música cantada em coro junto com o violeiro da cidade que lidera o canto, tem caminhada, tem enterro e lenços brancos sendo balançados. Ali, todos, por mais diferentes que sejam, parecem dividir a saudade que sabem que vão ter. O luto é compartilhado.

Cena do filme

Comunidades não emergem do nada, elas são construídas a partir de laços, trocas, tempo e até mesmo conflitos. Dona Carmelita, junto com o museu de Bacurau, representa a união a partir desse compartilhamento e a história do grupo que forma aquela cidade e que começa a ser apresentado para o espectador a partir do velório. Há algo que une todos ali, a história de uma pessoa ou de uma população, e é isso que faz Bacurau existir. Rituais de morte, principalmente quando são vividos e preparados de forma coletiva, costumam ser uma forma de preservação da memória de alguém, de um contexto, de uma família e até de um povo e isso importa tanto para quem fica porque é uma forma de dar continuidade ao que foi partilhado.

Os falecimentos, no filme até então, se apresentam como parte da vida cotidiana. Acidentes acontecem, velhos morrem, mas nos detalhes se percebe que viver ali é resistir a um destino específico fruto de um abandono e de uma época. O Estado não se apresenta como deve, aquelas pessoas estão desamparadas. Restaram a elas apenas o apoio uma das outras. A morte, nesse tempo que a gente só sabe que é depois de agora, está explícita na tevê. Há execuções públicas no Vale do Anhangabaú. De fato, ela ronda Bacurau e também o país.

Em Bacurau, se luta contra a morte todos os dias. Seja pela falta de água potável, de remédios, de vacinas ou de comida. A morte morrida, essa causada pela falta ou pela natureza mesmo, também pode ser política, mas a morte matada que surge posteriormente deixa evidente o quanto aquele povo é considerado invisível. Quem nasce em Bacurau é gente, mas parece que só quem mora lá sabe disso.

Quando Teresa, frente ao caixão da avó, diz que dona Carmelita é a segunda morta que viu no dia, há um estranhamento que surge talvez do quanto aquilo parece cotidiano e ao mesmo tempo fora do lugar. Teresa vê, numa alucinação, o caixão da avó transbordar em água. A morte, por mais cotidiana que seja, parece estar mais presente do que deveria mesmo quando a gente ainda não conhece o que há de vir. A água transborda ali, mas a gente não sabe o que isso significa ou se é para significar algo. Seria a morte e o sangue dos que vão embora? Seria um símbolo para a vida e o afeto que cercam aquele corpo? Seriam lágrimas de quem sabe o que vai vir? Seria a água da represa voltando a jorrar?

Quando os corpos mortos por tiros começam a surgir, o mau presságio é confirmado. Numa cena, Pacote/Acácio (Thomás Aquino) encontra os cadáveres de dois de seus amigos, coloca-os dentro no carro sentados, ainda ensaguentados e sujos e, durante o trajeto, explode de raiva numa conversa sem respostas. Aquela perda não era esperada. Ele entende que ela poderia ser evitada, sente culpa por ter pedido a eles para irem até aquele lugar em que foram executados e a raiva, parte indissociável do luto, é a resposta dele para aquela dor.

A cidade chora seus mortos, ainda que em choque e se preparando para se proteger. Antes do encontro da cidade com os assassinos, os rituais de morte do menino, dos homens e da família acontecem junto a uma outra espécie de ritual, o de preparo para uma batalha. Enquanto um buraco, que a gente ainda não sabe para que serve ,é cavado, tem capoeira, tem reza, tem desespero, busca pela prostituição e também conexão e contato. A proximidade com a morte é o que guia ambos os rituais e cada um reage à sua maneira.

Bacurau quer viver em paz, mas sabe reagir para proteger os seus e manter a comunidade viva. As vestes sujas de sangue dos corpos mortos de sua população se tornam bandeiras de luta. A escola, cravejada de balas e lotada de gente escondida debaixo de carteiras, também reage. O museu também é um centro de resistência ao ataque. As engrenagens da cidade, com toda sua gente, inclusive aqueles que um dia já rejeitaram aquele povo e aquele lugar, se movimentam para impedir o massacre de seu povo.

Museu é lugar de história de gente que já morreu faz tempo e representa o passado. Escola é lugar de gente que acabou de chegar no mundo, local onde o futuro se desenha. Nenhum deles está protegido de quem quer ver sangue, como sabemos ao ler as notícias do Rio de Janeiro ou dos EUA, mas no filme esses lugares, considerados tão vulneráveis e que costumam ser alvos de tentativas de controle e descaso, se tornam focos de resistência por serem espaços em que se celebram e preservam a coletividade e a memória. Nesse sentido, faltou, na minha opinião, maior participação feminina na violência e menos hiperssexualização. Apesar de algumas personagens femininas serem parte ativa da resistência, usarem armas e se posicionarem, os protagonistas da ação — e, na prática, até do filme — são homens, ainda que Lunga (Silvero Pereira) não se encaixe bem nesse lugar masculino e a comunidade, substantivo feminino, seja o centro da história. As mulheres, que são colocadas pela obra como importantes mantenedoras da comunidade viva, ficam em segundo plano nessa hora, como se a elas coubesse o papel de serem lideradas ou buscarem sempre as vias do diálogo. Vide Teresa, essa que é filmada como protagonista, mas que o roteiro não a valoriza o suficiente, e Domingas.

As mortes em Bacurau servem como um lembrete de que o Brasil foi construído e ainda o é a partir da violência, mas essa violência foi perpetuada, permitida, ainda que não às claras, e alimentada por quem representa o Estado. E, no caso do Nordeste, como bem expõe o filme, incrementada por sudestinos e sulistas que se consideram superiores a quem vive nessa parte do Brasil, enquanto são tratados como menos gente por quem eles consideram próximos e parecidos com eles. Esse passado — e o nosso presente — repleto de um tipo sangue específico derramado precisa ser considerado sob o risco de vermos a resistência de quem quer simplesmente se manter vivo ser encarada como a real face da violência. Os bárbaros não são os que atacados buscam lutar pela vida e pela sua dignidade, ainda que alguns defendam que histórias como essas sejam contadas assim.

Cena do filme

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“Temporada”: cotidiano, cidade e a descoberta da autonomia

Cena do filme

O filme brasileiro “Temporada”, dirigido e roteirizado por André Novais Oliveira, foi o grande premiado do Festival de Cinema de Brasília de 2018 e chegou ao mundo do streaming pela Netflix agora em abril de 2019. A obra é sobre o cotidiano nas cidades e aborda a realidade de uma maneira tocante e simples sem ignorar o peso de opressões.

Em mais uma excelente atuação, Grace Passô dá vida à personagem Juliana, uma mulher que se muda para Contagem (Região Metropolitana de Belo Horizonte) para assumir um cargo concursado de agente de combate à endemias. A partir dessa mudança, Juliana vê sua vida se transformar junto com seu novo cotidiano.

Do que é feita uma cidade?

O novo emprego da protagonista envolve circular a pé em um lugar totalmente novo, entrar na casa das pessoas, buscar focos de proliferação de mosquitos, escorpiões, abelhas e afins. Essa rotina nos apresenta a cidade como ela é: cheia de personagens diversos, óticas variadas, paisagens e também uma dose de simpatia, troca e diálogo.

A relação dela com seus colegas de trabalho se constrói a partir desse espaço dominado pelo cotidiano repleto de histórias, cafés na casa dos moradores visitados, humor e dificuldades financeiras.

Ela, pela sua função de cuidar da cidade e sua população, adentra espaços de intimidade, mexe nas tralhas das pessoas, lida com o conflito entre o público e o privado. Os colegas já experientes nesse trabalho, inicialmente, a guiam nisso e desde logo ensinam que esse cuidado que ela é obrigada a dar como profissional muitas vezes é retribuído voluntariamente.

A cidade em “Temporada” é abordada de uma maneira tocante por mostrar a construção das relações entre os agentes de combate à endemias e a população atendida. As fronteiras do público e do privado, ao serem diluídas, mostram, com delicadeza, a importância do banal na vida de cada um.

Autonomia, solidão e descoberta

Juliana é uma mulher casada, mas se muda para Contagem sozinha. Estar só em um lugar novo faz com que ela reflita sobre quem é, o que quer e o que teme. Ela, nesse contexto, entra em um processo de descoberta que envolve autonomia e identidade. Assim, a protagonista se permite reinventar a partir das novas experiências.

Há uma dualidade na trajetória de Juliana. Seu desenvolvimento como personagem perpassa tanto a solidão quanto a construção de novas relações. Ela percebe a importância de construir amizades, do apoio mútuo e da troca de companhia, mesmo que descompromissada, e descobre novas possibilidades diante disso.

Juliana, mulher negra (contém spoilers)

“Temporada” é, a primeira vista, sobre cotidiano, mas por meio dele trata também de questões como machismo, racismo e espaço urbano.

O abandono marital sofrido pela protagonista é uma amostra da realidade de muitas mulheres brasileiras, especialmente as negras. Sua solidão, que antes tinha um tempo certo para acabar, ganha um ar de permanência. Ela precisa se adaptar ao novo emprego, ao novo lar e agora também carrega essa mágoa, mas também uma possibilidade de recomeçar.

Toda essa situação junto a dificuldade de processá-la verbalmente faz a personagem buscar descobrir-se. Isso desemboca, quase sem querer, em um corte de cabelo significativo. Em uma ida ao centro de Belo Horizonte com um dos seus novos amigos, ela abandona as madeixas artificialmente lisas e assume o cabelo crespo. Mudança que serve para coroar essa trajetória de aceitação dessa nova Juliana e da nova vida que se desenha.

“Temporada” é sobre uma nova fase

Os diálogos naturais, com suas gírias e silêncios, junto das cenas quase poéticas com recortes das casas e da cidade constroem uma obra marcada pela sutileza e pela vontade de seguir a vida apesar dos pesares.

O dia a dia, muitas vezes encarado como um espaço temporal onde não aparenta ocorrer nada importante, é quando a vida acontece. A plasticidade dos destinos e de quem somos se desenrola, a maioria das vezes, na banalidade da vida real.


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Confira o trailer:

Kingmakers: as esposas por trás de grandes homens

Cena do filme “A esposa”

“Atrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher” é um ditado popular que evidencia os papéis de gênero esperados pela sociedade, especialmente dentro do casamento.

O lugar do homem dentro da relação é o de protagonista, seus objetivos e sonhos estão sempre em primeiro plano, enquanto a mulher trabalha nos bastidores para que o homem atinja suas metas. O lugar da mulher nessa dinâmica é o de complemento do homem. Os sonhos e objetivos dela são deixados de lado e não são vistos como importantes.

A ideologia machista afirma que homens e mulheres se complementam e usa esse argumento para perpetuar a divisão sexual do trabalho e a submissão feminina. A capacidade reprodutiva feminina é colocada como um destino biológico que serve como justificativa para que o que eles chamam de complementação seja apenas subserviência a um único projeto de vida, o masculino. Esse caminho é colocado como natural porque em nossa cultura os homens são vistos como os detentores das ferramentas, talentos e habilidades necessárias para buscar um sucesso que não seja o de cuidado da casa e dos filhos.

“A esposa” é um filme impactante porque foca na mulher que foi colocada nesse lugar e expõe as ações que um dia a levaram a acreditar que esse era o melhor caminho possível e o seu arrependimento posterior.

Joan (Glenn Close), apesar de lidar com uma frustração crescente relacionada com o sacrifício que fez, se incomoda com o rótulo de vítima, porque entende que foi levada a optar por esse caminho devido a todo o contexto de exclusão, discriminação e oportunidades diferentes relacionadas com homens, mulheres e a visão de como um relacionamento deve ser.

A visão do mercado editorial sobre a escrita feminina, as expectativas pré-existentes do que é um relacionamento de sucesso, o destino feminino padrão, a energia e o enfrentamento necessários para lidar com escolhas que fugissem do que era esperado e a manipulação de Joe são alguns dos pontos que a fizeram sacrificar seus sonhos em função de trabalhar pelos dele. Por Joan ser capaz de racionalizar alguns desses fatores contextuais, ela acredita que escolheu esse destino, que o que ela fez foi uma negociação a partir do que era possível ser alcançado por ela.

Cena de um flashback do filme com Joan e Jon jovens

Naturalização do machismo, violência psicológica e “escolhas”

“Quem é Joan e o que ela quer, pensa e sente?” é uma pergunta que ocorre desde a cena do telefonema que informa que Joe Castleman (Jonathan Pryce), seu marido, é o mais novo ganhador do Nobel de Literatura e ainda deixa dúvidas na última cena do filme.

Flashbacks ajudam a construir a imagem de Joan, de Joe e do mundo que os cercava desde jovens. Por meio desse recurso, a gente descobre que Joan escrevia, que Joe foi seu professor e que ela ouviu de uma mulher escritora que a carreira literária era um desafio praticamente impossível para mulheres.

Da dinâmica familiar, que inclui até mesmo os filhos do casal, até a organização do Prêmio Nobel que conta com uma funcionária responsável por cuidar das esposas dos laureados, o lugar da mulher é o de acessório. A exposição de cenas relacionadas a esses dois fatores argumentam contra a imagem de não vítima que Joan se apega e nos dão pistas essenciais para entender quem Joan foi, quem ela se tornou e o processo que está vivendo.

Ser laureado com o Prêmio Nobel é um dos maiores reconhecimentos que existem. Escritores, personalidades políticas e cientistas sabem que esse é o topo máximo de diversas carreiras. Ser declarado vencedor pela Academia Sueca é ser colocado em um pedestal de qualidade e relevância. Só que esse pedestal da intelectualidade mundial parece ser algo que só pode ser alcançado por homens brancos, como o filme mostra ao exibir detalhes da organização do evento e a gente entende muito bem por conhecer as estatísticas que apontam que as mulheres são uma minoria entre os premiados.

Fica evidente que qualquer mulher que surgir como ganhadora do Nobel será uma exceção, para muitos, uma intrusa. O lugar delas é o de esposas, de kingmakers, as que se sacrificam na vida privada para que a parte masculina do casal brilhe no espaço público.

A cerimônia do Nobel, foco do filme, se passa em 1992, com Joan e Joe já idosos, mas as espectadoras de hoje, mesmo com décadas separando suas vidas dos eventos do filme, percebem — e, de certo modo, ainda sentem — as engrenagens sociais que fizeram Joan tomar as decisões que tomou durante a vida.

O que torna “A esposa” um filme importante é o fato de que a história nos permite refletir sobre acontecimentos que vemos como naturais e não o são e como isso impacta nosso cotidiano sem prêmio Nobel por perto.

O que causa estranhamento em nossa sociedade é a mulher que quebra com as expectativas de comportamento ligadas ao seu gênero e lidar com isso pode ser bem difícil. Sabemos que elas podem ser punidas, inclusive por meio da violência física e sexual, até por dizerem não a um colega e, por isso, mesmo sem querer, mulheres muitas vezes se guiam pelo que é dito adequado. O que pode ser uma fonte enorme de frustração, mas é encarado como uma alternativa aceitável por parecer garantir alguma segurança. Nesse contexto não dá para dizer que há de fato uma escolha livre.

A naturalização da violência psicológica e do machismo são fatores que fazem com que alguns espectadores e até mesmo a personagem tenham dificuldade de entender que o relacionamento exposto no filme é abusivo. Como não há presença de violência física e o casal parece viver momentos de cumplicidade, muita gente entende que Joe e Joan vivem apenas um relacionamento com momentos ruins e ignora todo o resto. Esse resto inclui manipulação, a ideia de que o sacrifício feminino como mãe e esposa é algo a ser esperado por parte das mulheres e a concepção de que apoiar um marido é deixá-lo ser protagonista da vida do casal e aceitar suas traições dentro do relacionamento. Visões de mundo tão comuns que para muitos é preciso olhar duas vezes para que se perceba que poderia ser diferente.

Imagem de divulgação do filme — Joan um pouco atrás de Joe diz muito sobre a realidade das mulheres.

Indústria cinematográfica, machismo e o lugar da mulher

Essa visão de homens como protagonistas e mulheres como coadjuvantes é tão perniciosa que se apresentou até mesmo na feitura do filme. Glenn Close afirmou para a Agência NPR que a obra, adaptação de um livro de Meg Wolitzer, demorou mais de um década para ser feita porque atores de prestígio do meio se recusavam a aceitar o papel de Joe. Eles não queriam estrelar um filme chamado “A esposa” por não serem o destaque principal da obra e não receberem a maior remuneração.

O machismo da indústria cinematográfica não é bem uma novidade. Filmes dirigidos por mulheres raramente são premiados, bem distribuídos ou patrocinados. Os papéis voltados para mulheres privilegiam mulheres jovens, brancas e dentro do padrão de beleza, enquanto homens mais velhos são colocados para contracenar com mulheres cada vez mais jovens e, por essa razão, as atrizes perdem espaço na carreira bem mais cedo que eles. Além disso, análises dos premiados pela Academia do Oscar como Melhor Filme dos últimos anos apontam que personagens femininos nesses filmes tem um tempo de fala bem inferior ao de personagens masculinos. Todas essas questões se relacionam com a visão de que o espaço público, o sucesso, as carreiras importantes, são de protagonismo deles. Para as mulheres, o destino é ser coadjuvante, fazer casal, enfeitar e se dedicar aos cuidados de sua família.

Nos roteiros e bastidores dos filmes e também na vida real, a lógica vigente ainda é a que empurrou Joan para o sacrifício de sua subjetividade. Perceber isso é um passo para que essa realidade mude e esse debate, junto com a atuação impecável de Glenn Close, torna “A esposa” um filme necessário.

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Cafarnaum: o universo brutal da miséria

Imagem de divulgação

Dirigido por Nadine Labaki, “Cafarnaum” conta a história de Zain, um menino de cerca de 12 anos que vive em Beirute em situação de pobreza e negligência e faz de tudo um pouco para conseguir sobreviver.

Vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Cannes e considerado um dos favoritos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro junto com “Roma” e “Guerra Fria”, a obra aborda miséria e alteridade e também discute questões como maternidade, família, ausência do Estado, justiça, tráfico humano, imigração e até mesmo gênero.

Com “Cafarnaum”, a diretora Nadine Labaki, de origem libanesa, se torna a primeira mulher árabe a concorrer a estatueta na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, como diretora de uma obra com fotografia com ares documentais e atores não profissionais. Além da direção, Nadine faz uma ponta como uma personagem de pequena participação e é uma das pessoas que assinam o roteiro.

O menino quase homem

Quando Sahar (Haita ‘Cedra’ Izzam), irmã de Zain (Zain Al Rafeea), é vendida para se casar em troca de algumas galinhas — fato que o menino já sabia ser provável e por isso fez de tudo para esconder a menarca da irmã dos pais -, ele foge e passa a viver sozinho nas ruas da cidade. Mas mesmo antes de fugir de casa, o garoto, ainda tão novo, se vê obrigado a assumir diversas responsabilidades que se relacionam com a sua própria sobrevivência e dos seus. O cuidado com o futuro da irmã é uma amostra disso e a sua preocupação com o bem-estar do outro continua também na segunda parte do filme, apesar de seus pequenos delitos.

Zain assume esse papel, mas ainda é uma criança, brinca com armas de madeira na rua com um bando de meninos, quer ver desenho na televisão que não tem e ao fugir escolhe descer do ônibus em frente a um parque de diversão decadente. Essa decisão acontece após uma conversa com um velho fantasiado de Homem-Barata que sentou ao seu lado. Sua adultez precoce, presente durante todo o filme, contrasta com esse lado infantil que parece ter sido proibido pela realidade de se manifestar, mas ainda assim se apresenta em algumas situações.

O contraste entre o Zain que furta, trafica remédios, fala vários palavrões, xinga e brinca de armas de madeira com Sahar e Jonas, personagens da segunda fase do filme, nos ajuda a ver o quanto ele, sua família, Tigest e outros personagens vivem uma rotina violenta que os transforma. Sobreviver ali é se colocar como mais forte e a adultez e o comportamento agressivo do garoto se relacionam com o que se espera de um pequeno homem e também com a forma que as relações dele com os pais e com o mundo foram construídas.

Mães, pais e irmã: feminilidade e masculinidade em meio ao caos

Sahar, a mãe de Zain, e Tigest, mãe de Jonas, representam o destino feminino nesse contexto. Sahar vivia se esquivando sozinha — e também com a ajuda do irmão — da violência de gênero e das tentativas de exploração de seu corpo. Mesmo assim, acaba vendida para um homem mais velho em troca de galinhas. A mãe de Zain e Tigest dividem o peso da maternidade quando se tem pouco o suficiente até para a própria família. Uma, apesar de aceitar que a procriação é parte da vida, não consegue dar amor e o mínimo de dignidade para os seus vários filhos e em diversos momentos os trata como nada. A outra faz de tudo para conseguir alimentar seu bebê, dar amor e lida com um pai completamente ausente e um homem que tenta comprar seu filho.

O pai de Zain e Sahar é mais violento que a mãe e parece saber se comunicar apenas dessa forma. A mãe é quem intermedia a comunicação das crianças com ele em diversos momentos. Zain tinha tudo para ser como ele ou mesmo como sua mãe, mas com sua lucidez — ou seria ingenuidade? — infantil busca ser diferente por não ver sentido em viver como seus pais vivem. Essa busca não é consciente, é apenas uma procura por um destino que seja distinto daquele que apresenta como o único possível e ele não quer aceitar como seu.

Zain julga seus pais, especialmente sua mãe, por seu nascimento e vida, mas as cenas no tribunal, na prisão e os planos aéreos que mostram a cidade evidenciam o quanto o problema é mais profundo que isso. A negligência que o atormenta não é uma questão individual ou que se relaciona somente com sua família, é parte e consequência de um todo.

O todo

O filme apresenta os inúmeros problemas sociais que se emaranham e criam um ciclo de abandono que parece não ter fim. A miséria é mais do que a simples falta de dinheiro e oportunidade e a obra de Nadine Labaki evidencia que não há soluções e nem julgamentos fáceis. Combater a pobreza envolve lidar com muito mais questões do que se imagina. Por exemplo, gênero.

A opressão feminina foi abordada pela libanesa em seu primeiro longa, “Caramelo”, e também em “E agora, aonde vamos?”, seu segundo trabalho. “Cafarnaum”, ao levantar esse tema mesmo que de forma indireta, mostra um interesse da diretora em expor as adversidades relacionadas ao ser mulher e também nos permite conectar pontos e entender que o caos exposto na narrativa é parte de um todo de opressões e violências que interagem entre si.

O fim (contém spoiler)

O filme termina com Zain sendo fotografado para fazer a sua identidade e, provocado pelo fotógrafo, ele sorri. Ele, agora, ao menos existe para o sistema. Uma vitória quase insignificante para a sua jornada, mas que ainda assim parece ser um novo começo ao olhar dele. Um fator novo que pode fazer a vida dele ser diferente do que sempre se desenhou.

Nadina Labaki dirigindo Zain Al Rafeea

Essa crítica foi originalmente publicada no Delirium Nerd, site colaborativo escrito por mulheres que trabalha com textos sobre comportamento, representação feminina e cultura, com destaque ao que é produzido por mulheres.


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Roger Waters nos convida a resistir

Acervo pessoal

Roger Waters nos ofereceu um verdadeiro espetáculo sensorial na noite desse último domingo (21/10). Sons, imagens, luzes e até mesmo uns graves que fazem nossas entranhas vibrarem junto. No meio de tanta gente, nem o olfato é poupado. Pipoca, cigarro — legal e ilegal — e algum perfume bem doce, tudo isso bem misturado, invadem as narinas, enquanto a música nos faz sentir vivos como nunca.

Ao tirar os olhos do palco, o espetáculo também continua. Da arquibancada vejo gente, muita gente. São 51 mil pessoas e seus rostos e corpos juntos criam uma cena que me faz pensar no Mineirão como um quadro impressionista: quando olhamos o todo, vemos o público nas arquibancadas e pistas cheias, mas só enxergamos pontinhos manchados se tentamos focar.

Essa multidão canta junto clássicos como Time, Wish you are Here e Another Brick in the Wall, mas nessa última há uma disputa de narrativa. Quando as crianças tiram o uniforme de presidiário e exibem camisas com a palavra Resist estampada, a maioria grita #EleNão e, em oposição, parte do público diz #EleSim, Fora PT e Mito.

Acervo pessoal

As reações ao intervalo e suas palavras em vermelho variam: palmas, vaias e gritos de empolgação. Todos esperam a vez do “Resist neo fascism” para gritar ainda mais. Quando esse letreiro surge, alguns vaiam uma frase que deveria ser uma unanimidade.

O momento é marcado por mensagens ativistas. Temas como estado laico, guerras e a situação da Palestina são lembrados. Roger nos encoraja a resistir à poluição, ao Facebook e, principalmente, ao neofascismo. Na imagem dos neofascistas atuais, aquela que virou assunto nos jornais do país, o nome Bolsonaro continua tampado por uma tarja vermelha com a frase “ponto de vista político censurado” escrita.

Essa tarja diz mais até mesmo que a frase que estampava essa arte no primeiro show do artista no Brasil durante essa turnê. Ela é uma amostra de como funciona um Estado autoritário. Ela é, acima de tudo, um aviso, principalmente para aqueles que caíram no canto do neofascista tupiniquim. É assim que vai ser, Roger nos diz, nos alerta.

Diante do recente escândalo mundial que envolveu Cambridge Analytica e o uso de dados pessoais para influenciar as eleições estadunidenses, a crítica ao Facebook e ao Mark Zuckerberg merece uma atenção especial, principalmente após a denúncia de que empresários pagaram, sem qualquer declaração para a Justiça Eleitoral, para que empresas produzissem e espalhassem pelo Whatsapp conteúdo, muitas vezes mentiroso, para beneficiar Bolsonaro como candidato frente ao Fernando Haddad. Com isso, o músico evidencia a nova roupagem das ameaças que já conhecemos.

De repente, a capa de Animals começa a surgir a partir de uma imagem de destruição bem na nossa frente e vem Dogs. Depois um balão com um porco começa a circular. Nele está inscrito “Seja humano” em português e em inglês. Está na hora de Pigs.

Roger coloca uma máscara de porco e levanta um cartaz que diz que os porcos dominam o mundo. Depois ele arranca a máscara do rosto e dessa vez levanta outro cartaz. Esse diz ‘Fuck the pigs”.

Acervo pessoal

O telão zomba de Trump, enquanto a música acontece. As críticas ao atual presidente dos EUA são várias. Até suas falas problemáticas são expostas. Depois do letreiro “Trump é um porco” tomar conta de tudo, ouvimos uma máquina registradora. É a hora de Money. Agora vemos a imagem de diversos líderes políticos se sobreporem numa tela que exibe joias, notas, carros. Bush é um deles.

Com Us and Them, aparecem imagens de rostos diversos, manifestações e policiais posicionados. Em um close, ganha destaque um cartaz que diz Black Lives Matters, Love is Love, Women Rights are Human Rights e questões sobre imigrantes e meio ambiente.

O show continua. Mais uma capa de álbum aparece. Agora temos uma pirâmide de luz diante de nós. Cantamos, sorrimos, nos emocionamos mais uma vez e, após Comfortably Numb, a última música, agradecemos a experiência com todo um estádio gritando “Ole ole ole ole Roger Roger”.

Usando um telão e tecnologias visuais, o ex-baixista da banda Pink Floyd, apresenta algo muito além da música e mais uma vez faz um show que explora imagem, som, sensação, performance e manifesta o que está bem evidente em suas letras: é preciso ser mais humano e resistir ao neofascismo.


Observação: Existem muitas fotos incríveis desse show e de outros dessa turnê, mas eu optei por usar imagens que tirei como fã, porque esse texto é, sobretudo, uma narração de uma experiência.


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Calamity Games: uma editora de boardgames feita por mulheres

Descobri a Calamity Games através do financiamento coletivo dos jogos Metro e Merlin no Catarse. Ao ler sobre o projeto, notei que as pessoas por trás dele eram duas mulheres, Paula Soares e Marina Mattos. Não é todo dia que posso unir minha veia “valorize as minas” com meu hobbie preferido, por isso, aproveitei para fazer essa entrevista.

O que é a Calamity Games? Como surgiu? Qual a origem do nome?

A Calamity Games é uma editora de board games, localizada em Belo Horizonte, que publica jogos para o mercado nacional. Somos grandes amantes de board games e achamos que esse mercado seria um bom investimento. Nosso principal objetivo é fornecer aos nossos clientes o que gostaríamos de receber como consumidores.

As investidoras e empreendedoras da empresa são todas mulheres e procuramos uma inspiração feminina que nos representasse. Foi assim que chegamos à personagem da Calamity Jane, uma mulher pioneira e destemida da História do faroeste americano. Ela fez de tudo um pouco, foi generosa e desafiadora e achamos que seria uma boa representação nossa e para o que queremos fazer: causar calamidade no mercado.

Os jogos Metrô e Merlin estão no catarse numa campanha de financiamento coletivo flexível feita por vocês. Vocês podem falar um pouco sobre os jogos, a escolha pelo financiamento coletivo e as metas estendidas?

O Merlin foi um grande sucesso na feira Spiel de Essen (Alemanha) no ano passado e achamos que seria um ótimo jogo de peso para trazermos. É um jogo pra jogadores um pouco mais experientes, não necessariamente pela complexidade, mas pela quantidade de possibilidades de ações e estratégias. Apesar disso é um jogo para a família e pode ser jogado com crianças de até 10 anos.

O Metro, em contrapartida, é um jogo que foi renovado pela Queen cuja caixa básica já vem com 4 expansões. É um jogo bem leve e ideal para iniciantes. Você consegue explicar o jogo em 10 minutos e as partidas são curtas. Também é um jogo que comporta até 6 pessoas, enquanto a maioria dos jogos é para até 4 jogadores. Uma das expansões faz o jogo mudar completamente, e adiciona um grau de complexidade maior que os jogadores experientes vão gostar e os iniciantes podem começar a evoluir. As expansões também são combináveis o que cria muitas possibilidades de jogos.

Escolhemos o financiamento coletivo exatamente por sermos uma empresa iniciante. Achamos que com isso ganharíamos visibilidade, credibilidade oferecendo segurança aos nossos clientes, em comparação com uma pré-venda realizada diretamente no nosso site, por exemplo. Vendendo diretamente ao cliente também poderíamos oferecer preços melhores e atrair mais pessoas a experimentarem os jogos.

Como os jogos já estão prontos e não são protótipos, não podemos oferecer melhorias nas metas estendidas, por isso achamos uma boa oportunidade pra oferecer alguns acessórios e fidelizar nossos clientes.

E os próximos planos da Calamity Games? Dá pra adiantar alguma coisa?

Bem, ainda queremos manter o suspense sobre os lançamentos, principalmente porque só queremos anunciar quando estiver absolutamente certo que o jogo vem. De preferência, só faremos o anúncio quando já estiver em produção.

Temos uma parceria sólida com a Queen Games e pretendemos trazer o máximo de jogos deles possível. Mas também queremos trazer jogos de outras editoras menos conhecidas. Já temos um jogo de uma estreante holandesa, um jogo consagrado de uma editora americana e temos contato com uma editora indonésia. Achamos que os jogos são uma experiência cultural e queremos jogos bem variados e que façam uso de diferentes habilidades.

O jogos de tabuleiro agradam vocês por quais motivos?

Paula: Acho que pra mim é uma atividade de lazer, um hobbie, que promove a interação com pessoas reais, a competição de uma forma saudável e desenvolve habilidades e raciocínio de maneira divertida.

Marina: Os jogos de tabuleiro hoje em dia para mim são a minha maior conexão com os meus amigos no Brasil, o que faz essa atividade 10 vezes mais especial. Mas como a Paula disse, gosto da forma como eles são uma forma divertida de desenvolver o raciocínio e estratégia.

Quando vocês começaram a jogar? Teve algum jogo que funcionou como um divisor de águas?

Paula: Acho que jogos modernos comecei no início da década de 2000. A gente começou vendo programas de jogos na internet e importando o que dava. Acho que o divisor de águas não foi um jogo, mas quando começaram a surgir editoras fazendo versões nacionais dos jogos. Aí o acesso cresceu exponencialmente.

Marina: Eu comecei a jogar com a Paula e os nossos amigos! Eles me introduziram na jogatina e daí meu interesse foi crescendo dia após dia. Mas o jogo que me fez ver que eu gostava mesmo desse hobby foi o Catan que é pra mim o clássico dos clássicos.

Marina e Paula, as amigas à frente da Calamity

Quais são os jogos preferidos de vocês hoje?

Marina: Pra mim ainda é o Catan, pois é um jogo que agrada todo mundo e é bom para se aprender o que são os jogos modernos, afinal, não é à toa que está aí há muitos anos. Além disso, estou sempre aberta a testar os jogos infantis e sou apaixonada por jogos de zumbi.

Paula: Nossa, acho que meus favoritos vão sempre mudando. Um que me apaixonei recentemente foi o Alquimistas. É um jogo dedução com a temática de alquimia, que eu adoro. Você tem que descobrir a natureza das plantas usadas pras poções. Mas acho que Lords of Waterdeep é um do qual nunca canso.

Hoje há aplicativos de jogos muito conhecidos. De cabeça, me lembro do Ticket to Ride, Black Stories e Tsuro. Vocês gostam dessa alternativa?

Acho que aplicativos são bons para ajudar as pessoas a conhecerem os jogos. Falar de um jogo e jogar são coisas bem diferentes e nem sempre existe acesso ao jogo para uma partida de experiência. Então através do aplicativo você tem acesso à mecânica geral do jogo e pode ver se gosta ou não. Mas acho que a substituição do jogo analógico pelo virtual, mata metade do propósito dos jogos de tabuleiro. A ideia é realmente sair do virtual, jogar e interagir com pessoas de maneira física. Mover as peças, olhar a cara do adversário, rir, fazer piada. A experiência de um jogo analógico é muito mais completa.

Um dos jogos que estamos trazendo, o Metro, tem uma versão de aplicativo bem legal. Quem quiser conhecer, fica aí o convite.

Curtem jogos online?

Marina: Eu adoro jogar Playstation e jogo todo domingo online com um amigo. No momento estou jogando Life is Strange que é um jogo sobre uma estudante de fotografia que descobre possuir a habilidade de voltar no tempo em qualquer momento, fazendo com que cada escolha sua crie um efeito borboleta; uma premissa muito interessante.

Paula: Eu gosto de MMORPG. Joguei muito WOW. Mas sou uma jogadora casual, mesmo jogando há muito tempo. Gosto da história, do ambiente, das missões da exploração mais do que da construção de habilidades e tal.

Temos visto muitas mulheres reivindicando espaço nos jogos online e fazendo denúncias sobre assédio e machismo do meio. Essa reação das mulheres jogadoras se dá muito pelas discussões sobre esses temas terem ganhado o mundo, vocês acreditam que o machismo afeta também o mundo dos jogos de tabuleiro? Vocês acham que essas discussões também tem impactado positivamente a comunidade dos jogos analógicos?

Com certeza há muito machismo nos jogos de tabuleiro também. Existem algumas iniciativas muito legais no sentido de promover um espaço seguro para as mulheres jogarem como o Lady Lúdica, LudoGirls e BoardGame Girls que fazem eventos em que homens não são permitidos ou são minoria. Se esses eventos existem e permanecem é porque há uma necessidade de espaços onde as mulheres são protagonistas e não “acompanhantes”. É fácil ver atitudes machistas não só dos jogadores individuais, mas também de lojas e eventos.

Como uma empresa formada e comandada por mulheres achamos super válido essas iniciativas e temos a intenção de apoiar e participar assim que possível.

Com certeza essas iniciativas fomentam discussões. Já vi muitos homens espantados, sem entender a necessidade de um evento só de mulheres, ou mesmo criticando a iniciativa (o que só reforça a necessidade de um espaço seguro). Os eventos são para as mulheres, mas eles fazem os homens pararem e pensarem, ou até discutirem sobre o assunto. E a solução do machismo não é a segregação; é a conscientização.


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Arábia e a escrita de si

Cristiano (Aristides de Sousa)

O filme “Arábia”, dirigido pelos diretores mineiros Affonso Uchôa e João Dumans, conta a história de Cristiano (Aristides de Sousa), um homem que viaja Minas Gerais trabalhando onde encontra lugar para isso. Minas aqui não é lembrada por ser um local de belezas naturais, destino de turismo, ela é colocada como um local de trabalho, de esforço, de sobrevivência.

A obra se inicia com o foco em outro personagem, André (Murilo Caliari). Ele anda de bicicleta, desenha, fuma, cuida do irmão mais novo doente e é ajudado pela tia. De sua janela, ele vê, ouve e respira a fuligem da fábrica. Cristiano e André se cruzam vez ou outra na vizinhança, mas não há ligação entre eles. Apenas dividem o mesmo espaço, um bairro industrial, mas Cristiano está dentro e fora da fábrica, André somente fora.

A história começa a ser realmente contada a partir do encontro de André com o caderno-diário de Cristiano. Nesse momento, Cristiano assume seu lugar de protagonista e conta sua própria história por meio do papel.

O caderno-diário é fruto de uma tarefa que foi solicitada, não é algo que parte espontaneamente do personagem. O exercício consiste em narrar algo da vida dele que ele considere importante. “No fim de tudo, o que sobra mesmo é a lembrança do que a gente passou”, ele diz ao introduzir suas memórias.

Ao sair da prisão, Cristiano decide abandonar Contagem com medo de acabar indo em cana novamente. A pé e de carona, ele busca trabalho. Governador Valadares, Paraíso, Itabira, Ipatinga, Ouro Preto são alguns dos destinos do personagem. O acaso parece ser o elemento comum de todos eles. Seu percurso acontece sem ele ter muito poder sobre ele.

Todas suas relações partem dos espaços de trabalho, inclusive Ana (Renata Cabral), o amor de sua vida. Nos breves intervalos entre os afazeres, ele cultiva afetos. Canta, bebe, joga baralho e ouve histórias. Todos com quem divide esses momentos também trabalha para sobreviver. Seus esforços nunca resultam em algo além disso.

Por meio da escrita, Cristiano parece olhar para si pela primeira vez. O trabalho como constante o objetifica e a escrita de suas lembranças é o que faz ele entrar em contato consigo novamente. Ele reflete sobre si, a vida e o mundo que o cerca e conclui que todo mundo tem uma história para contar. Inclusive ele.

A memória é colocada como um componente da nossa própria humanidade frente a um mundo que cobra que o trabalhador seja uma máquina. Cristiano se descreve como alguém que não consegue se expressar bem, mas com um papel e uma caneta em mãos, ele encontra sua voz. Essa que parecia estar à vontade somente quando cantava em momentos de descontração. A escrita de si faz o personagem reviver lembranças e se ver como alguém além do homem trabalhador.

Durante a leitura, André descobre quem Cristiano é, um cara muito além da fábrica, das obras, da tecelagem, da plantação de mexerica e da prisão. O caderno une os dois personagens, André curioso sobre o que o trabalhador tem a dizer descobre que Cristiano também o observava. Apesar das diferenças, ambos dividem o bairro e a solidão.

A história de Cristiano toca não só por retratar as condições do trabalhador, mas também por ser uma narrativa que parte de um personagem que compartilha seu próprio ponto de vista. Uma história que poderia ser de muita gente e é parte de um Brasil que é invisível para muitos. Cristiano olha para si e a gente olha junto. Saímos do cinema cientes da desigualdade, do abandono, do cansaço do trabalhador comum e do poder da palavra e da memória na construção da subjetividade de cada um, principalmente daqueles a quem isso é negado.


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“A Número Um” e os obstáculos do machismo

Cena do filme “A número um” / Foto: Divulgação

Um fantasma que ronda todas as mulheres é o de saber que qualquer erro cometido será colocado na conta de seu gênero. O erro de uma pesa para todas, mas essa lógica não se repete para as vitórias. O sucesso de uma mulher ainda é só dela, apesar de abrir caminho para as próximas que passam a acreditar que aquilo pode ser possível. A sociedade não vê a conquista de uma posição de comando por uma mulher como um sinal de que mulheres são capazes de ocupar um lugar antes reservado para homens.

Para uma mulher acessar um espaço de poder como a presidência de uma grande empresa, não basta que ela seja ótima, ela precisa ter uma trajetória impecável, ser excepcional e receber validação pública. Sucesso, liderança, poder e dinheiro ainda são vistos como espaços masculinos. Uma mulher em um espaço desses ainda é uma intrusa, alguém que tirou um homem dali.

“A Número Um”, filme dirigido pela francesa Tonie Marshall, conta a história de Emmanuelle Blachey, uma mulher de sucesso que busca ser a primeira mulher presidente de uma grande empresa. Aos olhos do machismo, ela já é uma intrometida e quer ser ainda mais. A ambição não cai bem para as mulheres, pensam eles.

Já na primeira cena do filme, vemos a protagonista receber uma mensagem de conteúdo sexual em tom agressivo. Já em outro momento, ela comenta com outra mulher que seu assediador desconhecido parece querer calá-la colocando o pênis em sua boca e essa é somente uma das críticas feitas na obra à misoginia vigente, principalmente no mundo corporativo.

A trama gira em torno da tensão que envolve a busca dela por esse cargo, os jogos de poder que o cerca e os silenciamentos, estereótipos e desumanização que perseguem ela e todas as outras. Enquanto os acontecimentos se desenrolam, o espectador descobre mais sobre Emmanuelle e percebe o peso de ser a única mulher no meio de tantos homens.

O filme é sobre o jogo de poder de sempre, mas com críticas ao fato de que as mulheres estão em desvantagem. A regra do jogo para as mulheres é que um erro vale para todas, os estereótipos também. E tudo isso vira arma para nos manter fora desse e de outros espaços. No Brasil, por exemplo, somente 10,5% do Congresso é feminino.

O poder tem gênero, tem cor e tem classe. A protagonista enfrenta o obstáculo do machismo. Toda sua vida é permeada por ele, do assédio aos sutis comentários que a rodeiam, mas é importante lembrar que os caminhos para uma presidência de uma grande empresa também podem ser atravessados pelos entraves do racismo e da pobreza.


Tonie Marshall foi a primeira mulher a receber o Prêmio César de Melhor Direção por sua comédia Instituto de Beleza Vênus e no filme “A Número Um” atuou na direção, roteiro e produção.

Assista o trailer:

7 possibilidades de valorizar o trabalho artístico feito por mulheres

Erase Discrimination, 1999; Pink rubber with ink screenprint, The Guerrilla Girls Talk Back.

A virada de um ano para o outro marca para muitas pessoas o início de novas possibilidades: a gente revê nossos hábitos, estabelece metas, cria novos projetos, faz listas com o que queremos fazer nos 365 dias seguintes e refletimos sobre toda uma nova rotina que combina mais com quem a gente quer ser. Se no último ano, você percebeu o quanto a arte feita por mulheres é desvalorizada e se assustou com o quão poucas artistas, escritoras, diretoras mulheres você conhece e uma de suas resoluções do novo ano é valorizar mais o trabalho delas, tenho uma lista de ideias de como começar.

1) Conheça, acompanhe e participe de hashtags de projetos como o #LeiaMulheres e o #52FilmsByWomen

A Women In Film criou um movimento para dar visibilidade às produções cinematográficas femininas. A proposta é ver um filme dirigido por uma mulher por semana durante um ano e postar sobre ele nas redes sociais usando a hashtag #52FilmsByWomen ou a versão em português #‎52filmesPorMulheres. Já a #LeiaMulheres foi inspirada na hashtag #ReadWomen2014, criada pela Joanna Walsh e que propõe celebrar obras de escritoras. No Brasil, além do uso da hashtag ter viralizado, houve uma proliferação de clubes de leitura com essa temática em várias cidades e de sites com resenhas de livros de autoria feminina. A reflexão sobre as mulheres no mercado editorial foi além e hoje existe também a iniciativa #LeiaMulheresNegras, que divulga a literatura feita por elas para combater a invisibilidade que o combo do machismo com o racismo faz existir.

2) Busque conhecer e ler escritoras brasileiras

O mercado editorial tem poucas mulheres em destaque, entre essas poucas, a maioria é norte-americana ou europeia, por isso é importante valorizar as escritoras daqui. Além disso, conhecer escritoras brasileiras é uma forma de conhecer o país que você vive e as diversas realidades e ficções que podem acontecer dentro desse território. Não sabe por qual autora começar? Sugiro conhecer as obras de Ana Paula Maia, Angélica Freitas, Ana Rüsche, Aline Valek, Conceição Evaristo, Eliane Brum, Elisa Lucinda, Jarid Arraes, Ryane Leão, Socorro Acioli, Carolina Maria de Jesus, Lygia Fagundes Telles, Hilda Hist e muitas outras.

3) Valorize o trabalho de escritoras e artistas independentes

Ficar preso às publicações das grandes editoras e às exposições das galerias famosas faz a gente perder muito trabalho bom. Sendo a arte um espaço ainda predominantemente masculino e branco, os trabalhos que ficam à margem costumam ser justamente o de mulheres e de outros grupos que sofrem discriminação. Vale a pena ficar de olho nos sites de financiamento coletivo! Uma alternativa que tem sido muito utilizada por artistas e escritoras.

4) Acompanhe páginas que divulgam trabalhos feitos por mulheres, que indicam novos nomes da literatura e arte, exposições e filmes

No Medium temos, por exemplo, a iniciativa Mulheres que Escrevem, que divulga muitas produções literárias femininas. Além delas, indico também: Mulheres Notáveis, Mulher no cinema, Mulheres nos quadrinhos, Arte feminista, Arte das Minas, Leia Mulheres e Leia Mulheres Negras.

5) Troque referências

Indique leituras, filmes, artistas. Resenhe. Chame suas amigas e seus amigos para ver algum filme em cartaz dirigido por uma mulher. Apoie o trabalho das escritoras, artistas e cineastas que você gosta. Elogie, mostre que se importa com o que elas produzem. Compartilhar nomes femininos que fizeram uma arte que te agradou é uma forma de valorizar o trabalho das autoras e você ainda abre portas para ouvir indicações de outras pessoas e conversar sobre.

6) Conheça zines e publicações que valorizam os trabalhos das minas

Como a Fale Com Elas, a Alpaca Press, Revista Farpa e outras iniciativas. Os exemplos citados são publicações organizadas e editadas por mulheres que reúnem trabalhos de autoria feminina. Um inception de valorização das minas.

7) Frequente exposições artísticas de mulheres.

Pare sempre para pensar na quantidade de trabalhos de mulheres presentes nas exposições coletivas. Vá nas exposições individuais de artistas mulheres. Busque saber mais sobre artistas e escritoras de épocas passadas. Pesquise sobre artistas e escritoras contemporâneas. Conheça as Guerrilla Girls. Destrua a ideia de que mulheres na arte têm o papel de musas!


Texto adaptado de uma publicação feita por mim na Alpaca Press. O projeto acabou e por isso alguns textos meus publicados originalmente por lá serão republicados por aqui.

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Jarid Arraes e as heroínas negras brasileiras

Jarid Arraes — Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis. Divulgação. Adquira seu exemplar aqui.

Da escada, avistei uma fila de pessoas em torno de uma mesa. Elas compravam exemplares de “Heroínas Negras Brasileiras”, livro de Jarid Arraes que reúne 15 cordéis que contam a história de mulheres negras como Antonieta de Barros, Carolina Maria de Jesus, Tereza de Benguela, Luísa Mahin e Aqualtune.

Sentei, junto com uma amiga, nas últimas duas cadeiras vazias e vi grupos se ajeitarem no chão, nos degraus ou ficarem em pé nas proximidades. De longe, se via muitos cabelos cacheados, crespos e anelados. A maioria do público era composto por mulheres negras. Eu era uma das poucas pessoas brancas da plateia.

Durante a roda de conversa, Jarid Arraes disse que escreveu essas biografias em forma de cordel e usou a palavra “heroínas” para definir essas mulheres por acreditar que a figura heroica tem o efeito de inspirar leitores e transmitir coragem para enfrentar adversidades. Ela ressaltou que o uso dessa palavra serve também para mostrar para todos que há heroínas negras bem perto de nós. Elas, como as homenageadas no livro, também resistem ao machismo, ao racismo e têm suas histórias marcadas pela resistência, coragem e talentos diversos, como a escrita e a liderança.

No evento que lotou o Sesc Palladium em Belo Horizonte, ela falou também um pouco sobre sua história pessoal, suas inspirações, contou um pouco mais sobre as mulheres que foram tema dos poemas de seu livro e expôs como o mercado editorial segue ignorando a presença das mulheres negras escritoras. Em seu discurso, ela evidenciou o efeito perverso que a invisibilidade das histórias das mulheres negras causa, já que o apagamento de uma narrativa como essa faz com que muitas pessoas cresçam sem referências de mulheres negras num mundo que continua perpetuando estereótipos de gênero e de raça.

No fim, Jarid comentou sobre seus futuros projetos em poesia e declamou o cordel que fala sobre a trajetória de Zacimba Gaba, uma princesa que foi traficada e depois torturada pelo escravocrata que a comprou por ele ter descoberto o passado dela. A princesa resistiu e envenenou o barão aos poucos e com a morte dele, liderou uma fuga e formou, junto com os demais fugitivos, um quilombo.

Ao terminar a leitura do poema, ela disse que quando escreveu “As lendas de Dandara”, seu primeiro livro publicado, narrou acontecimentos semelhantes com os feitos de Zacimba como pura ficção, porque ela ainda não conhecia essa história fantástica e real. E eu me pergunto, quantas histórias fantásticas e reais ainda não conhecemos? Quantas se perderam? Quantas ainda podemos resgatar e contar?

Nas últimas páginas de “Heroínas negras brasileiras”, há um espaço destinado para um cordel em sextilha e o convite para que nós contemos a história de uma mulher negra que nos marcou. Nessas linhas, feitos serão narrados e uma memória coletiva construída.

Muitas histórias começaram a ser lembradas ali, enquanto ainda ouvíamos a escritora apresentar seu trabalho, seus ideais e seu processo criativo. E várias já foram parar no papel um dia depois, na oficina de cordel ministrada pela autora. Entre professores, contadoras de história, fãs de cordel e especialistas no assunto, descobri como fazer sextilha, septilha e até décima com mote. Vi Jarid apresentar cada uma dessas possibilidades poéticas com trechos de seus cordéis engajados. Ela também falou sobre métrica e suas técnicas pessoais para garanti-la. E, enquanto pensávamos em quem íamos homenagear, ela leu, acompanhada de algumas participantes da oficina, vários cordéis presentes no livro.

Durante o lançamento da obra e também na oficina, Jarid ressaltou diversas vezes que a escrita não é um dom, ela é fruto de esforço e de treino. Para ela, todos nós podemos escrever. O discurso fez bem para mim, que estava ali numa missão de exploração de um novo jeito de escrever. Tentar algo novo é se expor ao erro e fiz essa oficina para conhecer mais sobre o processo de escrita da autora, experimentar um novo estilo e ampliar meus horizontes literários.

Com muita dificuldade, fiz meu primeiro cordel. Apanhei bastante da métrica e da rima, mas consegui prestar uma pequena homenagem para Adelina, uma mulher negra escravizada que ajudou a libertar cativos na luta abolicionista.

Meu primeiro cordel, como qualquer primeira coisa, ainda é uma tentativa, e apesar disso, dividirei o que fiz com vocês, já que acredito que a importância de compartilhar a história dessas mulheres é a mensagem primordial que Jarid quer passar. Sigo sem saber muito sobre literatura de cordel, mas com “Heroínas negras brasileiras” em mãos, percebo que vale a pena fazer parte desse partilhamento de histórias de mulheres notáveis e dessa valorização do cordel, enquanto parte da cultura brasileira. Vamos nos inspirar no trabalho de Jarid e apresentar para o mundo biografias de mulheres negras que admiramos?

Adelina, a charuteira

Vou contar neste cordel
uma história importante
de Adelina, a charuteira
e sua trajetória impactante
de luta abolicionista
contra todos ignorantes.

Filha de escravocrata
lidou com um tratante
Sua liberdade prometida
foi desprezada pelo arrogante
Trabalhou noite e dia
numa labuta esgotante.

Em São Luís do Maranhão
auxiliou os aflitantes
se tornou uma guia
nas ruas abundantes
ajudou muitos fugitivos
e deles foi informante.

Sobrenome não se sabe
mas seu feito foi brilhante
Vendendo uns charutos
se tornou uma militante
pela libertação dos escravos
e contra a exploração aviltante.


Acompanhe o trabalho da Jarid Arraes em seu site e página do Facebook.


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