“Fique comigo” e a dor de uma mulher nigeriana

Acervo Pessoal — Adquira seu exemplar aqui.

Chinua Achebe é considerado um dos maiores nomes da literatura do século XX. Sua trajetória como romancista, poeta, crítico literário e intelectual o tornou conhecido no mundo inteiro, inclusive por sua atuação como mediador de conflitos políticos de sua região. Seu trabalho como escritor, além de inspiração, acabou fazendo o mercado literário tão europeizado e estadunidense se abrir um pouco para a literatura produzida na Nigéria.

Quase 85 anos depois do nascimento de Chinua e 28 anos depois de Wole Soyinka ganhar Nobel de Literatura em 1986, Chimamanda Ngozi Adichie ganhou o mundo após ter um trecho de uma de suas palestras citado numa música da Beyoncé. Com a Nigéria de novo sendo observada como um ótimo berço literário, escritoras como Buchi Emecheta, Sefi Atta e Ayòbámi Adébáyò também conseguiram um espaço internacional sendo publicadas em vários outros países. Dentre as várias obras recentes que tornaram a Nigéria conhecida entre os fãs brasileiros de literatura, “Fique Comigo”, da nigeriana Ayòbámi Adébáyò, é um destaque.

Nesse romance, o leitor acompanha Yejide em sua jornada para se tornar mãe e todas as questões familiares, pessoais e culturais que afetam suas decisões, sentimentos e reflexões a respeito. A narração do livro é dividida entre ela, a protagonista, e Akin, seu marido, ambos contando a história do casamento deles, a partir de suas impressões, segredos, arrependimentos, sofrimentos e enganos.

Além dos assuntos da vida privada, a obra também aborda de maneira tangencial acontecimentos políticos e sociais que envolveram a Nigéria durante a década de 80 e, inclusive, cita Chinua Achebe, mostrando a importância dele para a sociedade nigeriana. Além disso, muito do contexto político e social narrado por Ayòbámi se relaciona com o livro “Hibisco Roxo” da Chimamanda e essa conexão torna ambas as leituras ainda mais ricas.

“Fique comigo” explora o quanto as pressões sociais relacionadas ao machismo são capazes de destruir mulheres, homens e relações, especialmente quando a família é colocada como algo central por todos, apesar de ser uma instituição que se importa mais com a maneira que seus membros são vistos pela sociedade do que em cuidar e acolher os seus. Os papéis de gênero tão reforçados pelas famílias de Yejide e Akin machucam todos, especialmente Yejide, que, marcada pela solidão, tende a aceitar tudo com medo de perder o pouco que conseguiu.

Doloroso, aflitivo e envolvente, esse romance explora temas como maternidade, casamento, poligamia, masculinidade, luto, solidão e machismo. Ler a história de Yejide e Akin é se permitir viver uma imensa gama de emoções, sendo a raiva talvez uma das predominantes, porque a obra expõe uma faceta da cultura nigeriana que é muito cruel com as mulheres.

Se você é um leitor ávido por histórias emocionantes e bem escritas, tem curiosidade sobre a literatura produzida fora do eixo EUA-Europa e se interessa em refletir sobre a condição da mulher no mundo, esse livro é uma ótima opção de leitura para você.


Tradução do livro: Marina Vargas


Se você gostou desse texto, deixe um comentário, compartilhe com seus amigos e me acompanhe pelo Medium, Facebook, Twitter, Sweek, Wattpad, Tinyletter e Instagram. Se interessou pelo livro? Adquira seu exemplar aqui.

Quer mais dicas de obras dos mais diferentes estilos? Confira essa listinha que saiu no site Salto Quebrado e acompanhe meu site!

Publicado por

Thaís Campolina

O que falta em tamanho sobra em atrevimento. Isso foi dito sobre um galinho garnisé numa revista Globo Rural dos anos 80, mas também serve pra mim.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s