
O que acontece quando começamos a tensionar o significado das palavras? O que a gente perde quando somos forçados pelas circunstâncias a usar as palavras e expressões que conhecemos de outra forma? O que essas mudanças significam? O que elas causam nas pessoas e na sociedade? O que acontece quando elas surgem a partir das consequências do que a humanidade já viveu, mas quase ninguém mais se lembra?
O que a humanidade conhecia como três da tarde não é mais três da tarde como sempre foi. Não tem luz do sol, não tem trabalho formal, não tem horas e mais horas que separa esse momento da hora de se recolher. As três horas da tarde parecem mais próximas agora das dez da noite de antes.
Família não é mais somente o grupo de pessoas que tem vínculo sanguíneo, de sobrenome e talvez de afeto. Família agora tem um significado mais próximo do que antes se entendia como comunidade. A sobrevivência humana passou a depender de redes de solidariedade e esses laços que surgiram da troca e do diálogo fizeram com que a ideia de parente ganhasse outros sentidos.
O mundo que se desenha agora, muitos anos após o que alguns chamaram de fim do mundo, é outro. Ele veio após os nomes democracia, povo e perseguição serem deturpados. Ele veio após fugas, guerras, desespero, dor e fins ganharem novas acepções. O que existe agora é um desejo urgente de sobrevivência e uma noção de que a humanidade é composta por seres sociais e que as pessoas precisam estar sempre cercadas de outras.
“Talvez tenhamos ficado muito tempo ensimesmados”, continua a protagonista branca, idosa e de cabelos lisos chamada Sônia, como a atriz famosa que a interpreta, para um grupo que não conheceu nada daquilo que ela viveu e agora a ouve com curiosidade e respeito.
Tem quem acredite que esse novo mundo se cria quando, às três horas da tarde, as pessoas se sentam juntas para conversar e compartilhar histórias antigas e novas. Alguma coisa acontece quando as pessoas se juntam. Alguma coisa acontece quando essa gente coloca no papel o que uma comunidade lembra, sonha, ri e conversa.
Esse texto é resultado do dia 8 do Desafio de Escrita para a Quarentena proposto pela Stefani Del Rio. A proposta era que se escrevesse uma espécie de sinopse para um filme fictício de distopia e/ou pós apocalíptico.
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