
PRÊAMBULO
esse poema entra em vigor na data de sua publicação
ele não diz nada que você não saiba
mas estabelece prazos novos
procedimentos especiais
e tira o conforto criminoso
de um ou outro homem
que vê essas palavras reunidas
e só se assusta quando nota
um nome feminino
que ousa publicar
poemas-lei
CAPÍTULO I
saiu um poema no diário oficial
ele mesmo se chama de porcaria
CAPÍTULO II
daqui para trás
somente leis
que criam direitos
para o povo
são permitidas
de hoje em diante
tudo será diferente
depois não diga
que não leu as letras
miúdas
CAPÍTULO III
morrer será proibido
viver mais ainda
eu não faço ideia
de onde você vai
enterrar seu pai
talvez no seu quintal
ou no lote da esquina
aqui não
aqui não pode
já tem morto demais
o cemitério está lotado
todo dia morre vinte trinta cinquenta e cinco
e nosso espaço comporta nem dez
CAPÍTULO IV
já notou
como a estrutura
de uma lei pode
ser subvertida
pode virar até arte
um poema moderno ruim
um papo sobre escrita não criativa
uma colagem de palavras
muito consultadas
em qualquer
dicionário
um poema-lei
todo dividido em artigos longos
que não dizem nada demais
e incisos que fingem trazer
[concretude]
ao que é feito para ser
~abstrato~
DISPOSIÇÕES GERAIS
a lei é metafísica
o poema também
o concreto e o real dependem
de um encaixe especulativo
nada perfeito
o que dizem
estrofes & versos
parágrafos & incisos
e muitas alíneas
sobre fatos & verdades
que são só suas?
Se você gostou desse poema, deixe um comentário, compartilhe com seus amigos e me acompanhe também pelo Medium, Facebook, Twitter, Tinyletter e Instagram. Se interessou em conhecer mais do meu trabalho? Baixe meu livro de poesia aqui e compre o e-book do meu conto avulso “Maria Eduarda não precisa de uma tábua ouija” na Amazon.
Um comentário sobre “técnica legislativa”