
A primeira vez que li Ana Cristina César, eu consultava o livro “26 poetas hoje” procurando nomes de mulheres. Fui com a cara dela, mas não sabia se tinha gostado.
Mesmo sem saber se tinha gostado, eu continuei procurando seu nome e suas palavras onde quer que eu fosse: bibliotecas, livrarias, estantes novas ou conhecidas e, pela falta, acabava desembocando com esperança no Google Estou Com Sorte.
Ana Cristina César se transformou em uma espécie de oráculo distante, uma voz que eu queria e precisava decifrar. Ana Cristina César me desafiou a pensar em desejo, mistério, morte, língua, comunicação e entendimento. Ana Cristina César se tornou a pergunta que me levou a descobrir a poeta que eu sou, mesmo eu ainda não sabendo dizer se gosto gostando do que ela diz ou se fui apenas seduzida pelo abismo da dúvida e da vontade e a relação disso tudo com a minha descoberta do poder do prosaico.
Agora, nesses seus 70 anos que me parecem tão fictícios por sua partida tão precoce, eu me volto novamente para suas palavras. É um alívio saber que eu ainda olho para cada um dos seus poemas buscando o que eu não sei dizer, acompanhada dessa pulga atrás da orelha que nunca parou de me atormentar.
É muito estranho se eu disser que nunca deixei de escovar meus dentes sem pensar nas minhas escovas com cerdas mordidas e na força que o eu-lírico da Ana emprega nesse ato tão primordial?
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