Divinópolis, Adélia, a poesia e eu

Foto: Ana Carolina Fernandes/Folhapress

Nasci na mesma cidade que Adélia Prado e quase sem querer encarei essa coincidência territorial como um destino passando a escrever poemas a fim de investigar qualquer coisa sem registro.

Nunca achei que a literatura fosse algo muito distante simplesmente porque Adélia Prado me ensinou a situá-la no aqui e no agora. O aqui e agora não é metafórico quando você vê a poeta citada no livro de literatura ir fazer a feira da semana onde a sua mãe também vai.

Lendo Adélia Prado eu aprendi a perceber melhor as cores. Descobri que uma casa com as paredes alaranjadas está constantemente amanhecendo, que o roxo é uma doidura para amanhecer, é bonito e o amarelo gosta dele, e eu e a Adélia também.
Por causa dela eu passei a notar que os jardins fazem parecer que as arvorinhas conversam, que deveria existir licença para dormir, que o trem de ferro que atravessa a cidade atravessa também a minha vida e depois vira só sentimento e também foi lendo Adélia que vi a palavra cu impressa pela primeira vez.

Esse texto foi escrito como parte de um roteiro de um vídeo que gravei para homenagear a autora no meu Instagram após ela ganhar, com menos de uma semana de diferença, os prêmios Machado de Assis e Camões. Assista aqui!

Sobre Adélia Prado e o cotidiano na poesia leia também esse meu ensaio publicado originalmente no portal Fazia Poesia.