Os rumos do Brasil, a PEC 181/15 e a obra “O conto da Aia”

Capa do livro “O conto da Aia”. Adquira seu exemplar aqui.

Há um Projeto de Emenda à Constituição em trâmite no Congresso Nacional que recebeu o apelido de “Cavalo de Tróia contra as mulheres”. O motivo? Transformaram um projeto que buscava ampliar a licença maternidade para as mães de prematuro em algo que define a vida como inviolável desde a concepção.

Se essa PEC se tornar realidade, o aborto nos casos de risco à vida da mãe, gravidez decorrente de estupro e feto anencéfalo podem ser criminalizados. Um retrocesso assustador.

Ao colocar a função reprodutiva da mulher acima de sua dignidade, isso relativiza o estupro e a visão de que mulheres são gente, como eu afirmei no meu texto “Por que a PEC 181 ganhou o apelido de “Cavalo de Tróia das Mulheres”?”.

Com o avanço da força do projeto conservador que busca controlar as mulheres, fica impossível não pensar nas relações entre o livro “O conto da Aia” com a atualidade.

Gilead é uma teocracia que se baseia no controle, especialmente das funções e do corpo das mulheres. Há Aias, Martas, Esposas, Econoespostas e Tias. Entre todas, apenas as Aias podem engravidar e sua função nessa sociedade é essa.

Quando 18 homens votaram sim para a PEC 181/15 e ela foi aprovada na Comissão Especial, eles disseram que a função das mulheres é engravidar e parir, independente dos riscos dessas gravidezes para a saúde física e mental das gestantes e da concepção ter sido ou não fruto de uma violência gravíssima. Eles mostraram que não se importam com nossas vidas, dignidade e saúde, eles nos veem apenas como receptáculos. Assim como os homens de Gilead veem as Aias, as únicas que ainda podem gestar e parir.

“O conto da Aia” é uma ficção que nos assusta tanto justamente por percebemos o quanto ela se baseia numa visão de mulher que ainda segue firme e forte no Brasil, nos EUA, no Canadá e no resto do mundo.

Não somos parideiras. Não somos receptáculos. Não somos incubadoras. Somos pessoas e temos direito à vida, saúde, autonomia e dignidade.


Texto publicado originalmente em minha página do Facebook. Se interessou pelo livro citado no texto? Adquira seu exemplar pelo meu link da Amazon.

Publicado por

Thaís Campolina

O que falta em tamanho sobra em atrevimento. Isso foi dito sobre um galinho garnisé numa revista Globo Rural dos anos 80, mas também serve pra mim.

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