
“Quem somos nós?” é uma dessas perguntas que são uma espécie de gatilho para questionamentos sobre comportamento, constituição física, inteligência, sociedade, evolução, passado, presente e futuro. É uma indagação tão frequente e tão ampla que se tornou cerne de diversas áreas da ciência. Mas, dentro do cânone científico, quem faz parte desse “nós”?
Homem, por muito tempo, foi o principal sinônimo de ser humano e de humanidade. Mesmo atualmente, seu uso é frequente, ainda que críticas a utilização dessa palavra nesse contexto sejam cada vez mais habituais. Esse pequeno detalhe diz muito sobre qual parte da humanidade é foco de pesquisas e é considerada detentora do conhecimento científico. A questão é: de que maneira isso afeta como a ciência — e também a sociedade — vê as mulheres hoje?
“Inferior é o car*lho”, de Angela Saini”, é uma investigação jornalística que questiona, por meio da própria ciência, a visão científica de homens e mulheres.
Eles são mais inteligentes e elas mais emocionais? Elas são castas e eles promíscuos? Elas não contribuíram ou contribuíram muito pouco para a sobrevivência e evolução da humanidade? E a cultura? Todos esses questionamentos e muitos outros são trabalhados pelo livro a partir da apresentação do que diziam no passado, muitas vezes bem recente, e o que apontam as novas pesquisas científicas que contestam essas teorias.
A maioria desses novos trabalhos citados por Angela foram elaborados por mulheres. Elas, ainda que lentamente, começaram a aumentar sua presença nesse espaço visto como masculino — e branco — e, assim, fazer parte da versão científica do “Quem somos nós?”. Isso tem sido benéfico para a discussão sobre o sexismo da ciência e nos faz questionar o quanto o ainda pequeno número de mulheres no topo das carreiras científicas é também causa e consequência de como a ciência tratou as mulheres em sua história.
A obra expõe o fato de que a ciência, apesar do método científico, também é influenciada pela cultura vigente e o quanto a visão dos cientistas sobre sexo e gênero afeta o interesse em determinados temas, a interpretação de comportamentos e também a análise de resultados. O conteúdo trabalhado pela jornalista Angela Saini aduz o quanto é importante reconhecer isso para que os resultados das pesquisas sejam mais efetivos. Apesar das críticas que argumentam o contrário, o feminismo de cientistas tem ajudado a tornar a ciência mais objetiva e a reescrever a história das mulheres.
Obs: A edição brasileira foi publicada pela DarkSide e conta com um prefácio escrito pela Heloísa Buarque de Holanda e obras incríveis do Coletivo Balbúrdia distribuídas pelas páginas do livro e foi traduzida por Giovanna Louise Libralon.
Se você gostou desse texto, deixe um comentário, compartilhe com seus amigos e me acompanhe pelo Medium, Facebook, Twitter, Sweek, Wattpad, Tinyletter e Instagram. Interessou pelo livro? Adquira seu exemplar aqui.