
Desci do ônibus por volta das 23 horas. A rua estava deserta. A madrugada anterior tinha marcado incríveis 7ºC e hoje a noite prometia um novo recorde. As minhas chaves estavam apertadas entre meus dedos mais centrais, como sempre, e eu tentava me convencer que estava munida de um soco inglês com pontas capazes de cegar um estuprador desavisado.
Faltando um pouco mais de um quarteirão para chegar em casa, a rua ficou mais escura e um homem apareceu na esquina da frente e veio em minha direção. Eu não tinha para onde fugir. Ele falava comigo, mas o medo e o barulho do vento não me deixavam entender bem o que ele dizia.
“Quando ele abaixar a guarda, enfio a ponta da chave na bochecha dele com toda minha força, chuto as bolas do desgraçado e corro”, planejei.
Eu tinha algo capaz de rasgar a pele e força o suficiente para usar minha chave como arma graças aos meses de musculação. Ele estava cada vez mais próximo e meu corpo cada vez mais tenso. Íamos nos encontrar de frente em alguns metros, mas antes disso, ele parou e começou a gritar “Mariana, é você? Sou eu, Seu João, seu porteiro. A luz do poste queimou, fiquei preocupado e vim te buscar”.
Não foi nesse dia que tive que usar técnicas de sobrevivência para conseguir chegar em casa sã e salva.
Texto publicado originalmente no meu perfil na Sweek para o concurso #MicroChave.
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