
Kristen Roupenian é uma das autoras convidadas para a 17ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Evento que acontecerá do dia 10 a 14 de julho desse ano. Seu nome foi o primeiro a ser anunciado na agenda do evento, mesmo ela sendo uma estreante no mundo dos livros.
Sua importância se deu porque a autora protagonizou um fenômeno da literatura contemporânea após sua história “Cat Person” se tornar viral ao ser publicada na revista “The New Yorker” no final de 2017. O conto de Kristen foi um dos mais acessados da biografia da publicação e moveu debates intermináveis na internet durante dias, despertando, inclusive, até mesmo haters. A partir dessa história, muito se comentou sobre liberdade, consentimento, objetificação e trocas virtuais. Temas que receberam um baita holofote nos últimos anos graças aos debates feministas, especialmente a partir dos primeiros passos do #MeToo, episódio que se iniciou semanas antes da publicação do conto.
“Cat person” é especial por expor, em um texto cheio de camadas, aspectos quase invisíveis das relações de poder entre homens e mulheres. Em poucas páginas, a autora nos faz refletir sobre o quanto a paquera, mesmo marcada pela modernidade das mensagens de texto e de uma certa liberdade sexual feminina, ainda reproduz expectativas a partir de estereótipos de gênero e dominação masculina. Ainda há obrigações que mulheres acreditam ter por terem gerado uma certa expectativa e direitos que homens acham que merecem.
Essa história chegou ao Brasil traduzida pela Ana Guadalupe em um livro, publicado pela Companhia das Letras, que reúne mais onze contos escritos pela Kristen Roupenian. Em comum, todos falam sobre poder e tratam sobre aspectos sombrios da humanidade. Suas histórias, no geral, carregam em seu cerne uma estranheza e, em alguns casos, mesmo quando envoltos de realismo, características que dialogam com filmes de suspense psicológico e até terror.
A obra e estilo de Kristen nos deixam desconcertados, especialmente quando ela escreve sobre consentimento, a arte do flerte e todos os estereótipos envolvidos nisso. “Cara legal”, “Seu safadinho”, “Não se machuque” e “Vontade de morrer” são bons exemplos de como ela explora esse tema de uma maneira que incomoda e choca por expor as problemáticas que se fazem presentes nos relacionamentos humanos.
“Look at your game, girl” é uma narrativa que também merece destaque e mexe, principalmente, com mulheres. Nesse texto, a autora mostra como a violência rodeia o feminino desde que somos muito jovens e explora o medo que toda essa dinâmica causa na gente, evidenciando como essas histórias marcam nossas identidades. Esse conto, analisado a partir do contexto de toda a obra, ainda nos faz pensar no quanto as relações de poder são moldadas também pelos acontecimentos que circundam nossas vidas. O medo que nos acompanha talvez seja parte essencial do desequilíbrio de poderes nas relações amorosas e sexuais entre homens e mulheres.
“Cat Person e outros contos” tem como trunfo a maneira que Kristen Roupenian aborda as relações humanas, a complexidade de seus vínculos, seus perigos e o quanto o poder mexe com a humanidade, especialmente quando ninguém parece estar observando.
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