É preciso deixar a boa menina para trás

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Quando estive em Galinhos, as águas estavam tomadas por pessoas praticando kitesurf. Do mar ou da areia, víamos homens e mulheres testarem os efeitos da gravidade, da ventania e da água em seus corpos.

Ao meu lado, também como espectadora, havia uma menina de uns sete anos completamente fascinada pelas manobras. Ela comentava cada uma delas com a mãe.

Após um tempo de observação marcado por comentários bem tagarelas, a mesma menina, com surpresa e muita empolgação na voz, observou que havia mulheres no meio do grupo esportista. Impressionada, ela perguntou sobre isso para sua mãe que respondeu que não há nada que impeça mulheres de praticarem kitesurf e completou dizendo: “Você poderá fazer, se quiser, quando crescer um pouco.”

Enquanto a cena se desenrolava ao meu lado, eu me perguntava: “Quem seria eu hoje se nessa mesma idade tivesse visto mulheres comuns fazerem coisas extraordinárias com seus corpos e ouvido do mundo que eu poderia fazer o mesmo?”

Apesar de eu ter pelo menos mais vinte anos que essa menina, reconhecer mulheres no meio do grupo no mar também me trouxe empolgação, satisfação e, confesso, certa surpresa.

Apesar de incômoda, essa surpresa foi inevitável, já que no passeio de buggy, feito alguns dias antes, todos os motoristas eram homens. E, dias depois, quando andei de quadriciclo, foram os homens que dirigiram as máquinas enquanto as mulheres se aventuravam apenas na garupa.

O passeio de quadriciclo tinha uma parada para troca de motorista e nesse momento algumas poucas mulheres assumiram o controle de seus respectivos veículos. Eu não fui uma delas.

Por mais simples que fosse, por algum motivo, eu não me senti capaz de guiar. Não sei dizer direito o porquê disso, talvez a minha altura tenha me feito questionar a minha capacidade, eu não sei, mas me lembro de ter tido a sensação de que eu ia falhar, me envergonhar, atrasar o grupo e, de quebra, queimar o filme das mulheres.

Eu tenho carteira de motorista há quase dez anos, mas não me senti capaz de participar desse passeio como motorista, assim como nunca me sinto pronta para dirigir em Belo Horizonte e adio constantemente qualquer tentativa.

Minha mãe sempre dirigiu, mas quando meu pai estava no mesmo carro, era ele que assumia o volante e isso é um padrão que eu reconheço em várias famílias. Amigas minhas, mesmo as da minha idade, ainda agem assim até mesmo com seus próprios carros. Muitas das minhas tias sequer dirigiram alguma vez na vida, enquanto seus maridos sempre o fizeram. Mesmo antes de terem seus veículos ou habilitação, eles pegavam emprestado de alguém e guiavam sem pensar muito naquilo que faziam.

No grupo do passeio, o padrão era o mesmo. As mulheres eram todas acompanhantes. Nenhuma era motorista principal e isso me fez pensar bastante em como mulheres experimentam o mundo e não descobrem ou não reconhecem suas potencialidades por terem sido condicionadas a uma passividade que se baseia no apagamento de seus próprios desejos e curiosidades.

Nessas situações, eu sempre questiono: “Bastaria uma para que outras se sentissem encorajadas a tentar?” e a resposta costuma ser “Não sei” ou mesmo “Provavelmente não”, porque a gente sempre ouve que as boas motoristas, as muito inteligentes, as aventureiras e afins são exceções e percebemos que um erro nosso é sempre tratado como prova inequívoca da falta de capacidade de nosso gênero. Além disso, é preciso entender que algumas mulheres, senão a maioria, são desencorajadas pelos próprios companheiros a assumirem atividades como essas.

Em sete dias de viagem, eu tive três experiências que me fizeram pensar nas questões de gênero que permeiam a vida das mulheres mesmo quando elas saem de seu lugar de sempre e buscam viver coisas diferentes.

No quadriciclo e no kitesurf, as observações partiram da minha inatividade e na percepção do impacto psicológico da visão social das atividades femininas e masculinas em mim e nas mulheres ao meu redor. Já na terceira experiência, o meu local é o de uma mulher que participa da atividade aventureira como protagonista.

Eu simplesmente fui sem nem pensar duas vezes numa tirolesa e foi ótimo, mas isso acabou se tornando uma questão quando eu fui assistir ao vídeo feito no momento e me deparei com vozes masculinas berrando para mim “pode gritar, mulher”.

Não senti nenhuma vontade de gritar, sequer frio na barriga. A sensação foi de tranquilidade e prazer. Com os olhos bem abertos e míopes, vivi a experiência como se pairasse no ar entre água, vento e duna. Nem ouvi o berreiro masculino que depois descobri que existiu.

Quando meu namorado foi, logo depois, ninguém esperou que ele gritasse, quis dar permissão para ele fazer isso ou assumiu que ele estava morrendo de medo.

Todo mundo deveria poder gritar, se está com medo ou sente prazer nisso, mas a experiência feminina parece ter que aparentar ser de pânico ou ser assim de fato.

O medo e a insegurança são colocados como femininos e, de tanto ouvir isso, a gente se convence de que essa é a ordem natural das coisas mesmo quando o assunto não é estupro, violência doméstica e afins. Nos querem assustadas em todas as esferas. Até mesmo na hora de vender um passeio de aventura durante uma viagem. Mesmo isso sendo economicamente meio burro.

Quando eu, mais uma vez, não consegui viver a experiência
— tola, talvez, como agora eu vou saber? — de dirigir um Quadriciclo, eu me senti uma impostora. Por mais que eu fale que lugar de mulher é onde ela quiser, eu ainda sinto o peso do que vi e ainda vejo ao meu redor.

As mulheres ainda são vistas como passageiras. Não podem guiar suas próprias vidas. São acessórios que seguem o principal, o homem. Eles sabem de si e de suas companheiras e a gente foi ensinada a acreditar que essa é a ordem natural das coisas e que aceitar isso é ser uma boa garota.

A boa garota não se suja de areia quando curte uma praia, hidrata seus cabelos para que eles não fiquem quebradiços e faz questão de evitar molhar os fios quando entra na água. Ela não anda só de biquíni pelo calçadão. Sempre está de bolsa e canga. Ela sorri, fala pouco, baixo, se desculpa toda hora e não sabe ser assertiva. Ela está com a depilação em dia e as unhas bem cortadas e feitas. Ela aceita passiva seu lugar no mundo e acompanha seu homem bem bonita. Ela não existe, é apenas um ideal que nos ensinaram a buscar.

Ainda na sexta série, me lembro de anotar nas minhas agendas frases que diziam que as más garotas são as que saem do lugar, se divertem, são livres e sabem viver. Desde então quis ser uma dessas, mas muitas vezes tive medo das consequências desse desejo. Até porque, por ser pequena, branca e “frágil”, eu nunca me senti apta a caber nesse outro estereótipo que vez ou outra se apresentava de forma tão atraente, apesar de tudo.

A má garota é também a que precisa ser corrigida. É a que ouve que precisa fechar as pernas ao sentar e a que é xingada de respondona ao questionar. Se ela se machuca porque saiu correndo para fazer algo com os meninos, ela ouve que deveria ter ficado quietinha em casa.

Fui ensinada a ser uma boa garota, como todas nós fomos em algum nível, e achei que tinha rompido com isso. Descobri que não, apesar do meu esforço em desconstruir isso desde a adolescência.

Eu ainda sou uma dessas que, mesmo durante uma viagem maravilhosa, se incomoda com o que os outros vão pensar de suas unhas dos pés que estão grandes demais porque cresceram estranhamente nos últimos dias. Eu ainda sou uma dessas que tem uns devaneios de aventuras que ficam sempre no plano das ideias, porque, afinal, o mundo lá fora é perigoso demais para uma mulher. Eu ainda sou uma dessas que não consegue abandonar essa persona que sequer chega a tentar porque sabe que todo erro seu contará contra si e contra outras. Eu ainda sou uma dessas, que fala que não consegue sem nem ao mesmo tentar.

Virginia Woolf escreveu sobre a necessidade da mulher matar o anjo do lar para que possa viver de forma saudável. O anjo do lar é a neutralização da mulher enquanto indivíduo, um fantasma que nos assombra com finalidade de nos lembrar que devemos ser boas garotas e servir aos homens. Ele nos impede de descobrir nossas potencialidades porque coloca o desenvolvimento pessoal e as experiências da vida das mulheres como secundários. Esse anjo maldito assume que o que podemos fazer melhor é apoiar um homem, através de cuidados, serviços domésticos, amor e afins, porque ele sim tem potencial para fazer alguma coisa realmente significativa. Esse anjo vive dentro de nós e é fruto dessa educação que busca formar boas garotas.

Que antes das próximas férias, eu consiga fazer minha boa garota interior ir para o inferno junto desse anjo pervertido. Já passou da hora de eu e todas nós entendermos que podemos ser protagonistas de nossas próprias vidas. Entre eu e a minha melhor versão, ainda há um anjo do lar vivo e uma garotinha que quer obedecer os adultos em suas tolices só pra ganhar sorrisos.


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Até nunca mais

Ele saiu. Não sei para onde foi. Falou que ia me matar se ficasse mais um segundo na minha frente e foi embora deixando a porta escancarada comigo ainda no chão da sala. Fiquei deitada colocando sangue pelo nariz e vi o cara do 902 esperar o elevador e seguir em frente para seu leg day sem nem olhar para o lado.

Não sei porque ele se preocupa tanto em não deixar marcas óbvias se todos os vizinhos ouvem meus gritos há anos e não fazem nada. Ninguém se importa. Algumas vezes até eu deixei de me importar. Cheguei a pensar que ele devia me matar logo para eu ficar livre dessa merda.

Ai, ai, você vai realmente insistir para eu fazer b.o.? Outro? Contra o promotor amado da cidade do interior? Contra o cara conhecido por defender criancinhas de pedófilos? Não dá. Ele é um bam-bam-bam aqui e eu só uma mulher.

Sim, tenho certeza. Não vou passar fome e nem nada. Me planejei, sabe? Desviei uma boa grana dele para isso. Se ele vier atrás de mim, não vai me achar. Nesse avião já vou entrar com outro nome e chegando na Europa terei uma nova identidade me esperando. Seu relógio tá certinho? Já são onze da noite mesmo? É, tenho que chamar um táxi agora. Vai que ele volta mais cedo hoje. Não posso arriscar ficar mais.

Vem cá, me dá um abraço, vai. Não chore. Era isso ou continuar nessa merda.


Texto publicado originalmente no meu perfil na Sweek para o concurso #MicroRelógio. Se você gostou desse texto, deixe um comentário, compartilhe com seus amigos e me acompanhe pelo Medium, Facebook, Twitter, Sweek, Wattpad, Tinyletter e Instagram.

Terrorismo sexual: mulheres acuadas não são fato isolado

Aleksandra Waliszewska

No ensaio “A guerra mais longa”*, escrito pela historiadora feminista Rebecca Solnit, a autora fala sobre como a sociedade trata estupros coletivos, feminicídios e outros crimes contra as mulheres como algo isolado, excepcional. Ela expõe o quanto eles são frequentes, seguem um padrão e como o não reconhecimento disso prejudica o combate contra eles.

Solnit nos lembra que a violência é, antes de qualquer coisa, autoritária. As agressões contra as mulheres, sejam elas sexuais, físicas ou até mesmo psicológicas e estruturais, podem ser encaradas como tentativas de controle. A autonomia feminina é vista como algo a ser reprimido.

As leis, ainda hoje feitas por eles, decidem pelas mulheres sobre seus próprios corpos. Para eles, nós não somos capazes de decidir por nós mesmas, então eles decidem por nós. Não importa o que queremos, pensamos ou sentimos. Eles são ensinados a ignorarem nossos nãos e a acharem que o que eles querem está acima do que a gente quer. Eles decidem quem de nós merece apanhar e que tipo de comportamento nos coloca como merecedoras de violência. Eles decidem até mesmo quais de nós podem continuar vivendo.

A imposição, a punição e o ódio estão presentes na violência contra as mulheres e isso faz muitas pessoas acreditarem que se determinada mulher se comportar como deve, ela viverá uma vida sem violência. Mas isso não nos protege. Focar no que a vítima deixou ou não de fazer é culpá-las pela violência sofrida e isso é só mais uma forma de perpetuar o controle que eles querem nos impor. Fora que a desobediência que os irrita pode estar em qualquer coisa e a misoginia pode ser maior que qualquer comportamento exemplar.

A misoginia é devastadora. A violência e o autoritarismo masculino assombram mulheres há séculos e tudo isso é encarado como “fato isolado”, já que o medo que nos acompanha, a culpabilização da vítima e o machismo que faz com sejamos vistas como loucas, exageradas e interesseiras nos silencia.

Se você é mulher, você consegue pensar em inúmeras coisas que você deixou de fazer por medo de sofrer uma violência. Se fosse algo isolado, isso aconteceria? O medo de ser estuprada é algo que nos acompanha antes mesmo da gente saber o conceito de estupro. O que é excepcional em nossa cultura é achar uma mulher que jamais sofreu qualquer espécie de violência, silenciamento ou discriminação.

Natalie Portman discursou na segunda Marcha das Mulheres, movimento contra Trump que recebeu um gás a mais em sua 2ª edição por causa da crescente onda de denúncias de assédio que tomou Hollywood e até o Vale do Silício. Em seu discurso, ela contou que aos treze anos recebeu uma carta de um homem que fantasiou uma cena de estupro com ela e expôs o quanto a pŕopria mídia a sexualizou: “Uma rádio local começou uma contagem regressiva para o meu 18º aniversário — eufemisticamente, a data em que seria permitido por lei dormir comigo. Os críticos de cinema falavam dos meus peitos crescendo nas críticas.”

A atriz terminou sua fala com uma frase que diz muito sobre a eterna vigilância que mulheres vivem:

‘Com 13 anos, a mensagem da nossa cultura era clara para mim’, continuou. ‘Eu senti a necessidade de cobrir meu corpo e inibir minha expressão para mandar ao mundo uma mensagem de que eu sou alguém que merece segurança e respeito. A resposta à minha expressão, de pequenos comentários sobre o meu corpo a declarações ameaçadoras, serviu para controlar o meu comportamento por meio de um ambiente de terrorismo sexual.’

Quando vi Natalie falar no You Tube e notei o uso da expressão “terrorismo sexual”, me lembrei do discurso “24 horas sem estupro” de Andrea Dworkin feito em 1983. Dworkin diz que não há igualdade enquanto houver estupro, porque estupro significa terror e parte da população vive aterrorizada por essa violência. Não é caso isolado, é sistêmico. Quantos anos, movimentos e marchas veremos até que a sociedade encare a violência dos homens contra as mulheres como algo que nos tira a dignidade e autonomia e nos coloca como menos humanas que eles? Quanto tempo será preciso para perceberem que há um padrão no gênero dos agressores nesses casos?

A violência que nos atormenta existe para nos manter subalternas, caladas e com medo, mas isso está mudando. A gente vive um levante de vozes. O movimento #MeToo, como foi o #PrimeiroAssédio no Brasil, expõe o quanto a violência é sistêmica e nos aterroriza. O mundo tomou conhecimento do estado de terror que vivemos. Mas as que falam continuam sendo acusadas de exageradas, loucas e de quererem chamar atenção. Para eles, o foco continua na vítima. Questionam a demora para denunciar Weinstein, duvidam da palavra das mulheres por achar que elas querem aparecer e zombam dizendo “mas todo mundo sabe que a indústria cinematográfica é feita de testes de sofá”.

Larry Nassar, ex-médico da Michigan State University e da equipe de ginástica olímpica da Federação de Ginástica dos EUA, carrega 140 acusações de violência sexual, mas alguns seguem sem querer admitir que a gente precisa falar disso. Os atos de Larry Nassar, Weinstein, James Toback são vistos como monstruosos e só. Não há nenhum reconhecimento fora da bolha feminista sobre isso ser apenas uma parcela de um todo muito maior, um todo composto por mulheres acuadas pela violência cometida por homens. Nosso medo e nossas denúncias ainda são vistas como exagero, porque uma sociedade educada para ver a violência contra a mulher como algo isolado e sem padrões considera o todo consequência de um problema de segurança generalizado.


*O ensaio citado nesse texto foi publicado no Brasil no livro “Os homens explicam tudo para mim”, da editora Cultrix.

Obs: Texto publicado originalmente em minha página do Facebook.

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A arte do flerte: consentimento, estereótipos de gênero e dominação masculina

A fotografia feita por Alfted Eisenstaedt se tornou uma das imagens mais icônicas do século XX. As pessoas a aplaudem pela ousadia, pela paixão e por essa foto ter sido feita na comemoração do fim da 2ª Guerrra, porém a desconhecida da foto já alegou mais de uma vez que não foi uma escolha dela ser beijada. Ela foi agarrada de repente, mas pouco se fala sobre isso.

Muitos homens acham que insistir, pressionar e manipular situações para conseguir sexo é um comportamento aceitável, natural até. Esses caras acham que só é violência, que só há violação no consentimento, se obrigar, de forma direta, a mulher a fazer alguma coisa.

Nesse mesmo sentido, há quem fale que as mulheres têm agência e que elas precisam se responsabilizar por não ter conseguido dizer “não” COM TODAS AS LETRAS E TIL, mesmo quando elas negam fisicamente as tentativas de contato mais íntimo várias vezes. Dizer que mulheres devem se responsabilizar por não terem expressado o não de forma direta, firme e verbal ignora que consentimento não é “ceder às investidas”.

É o próprio jogo sexual padrão que coloca mulheres como seres sem agência que não sabem bem o que querem e precisam ser pressionadas para fazerem o que supostamente desejam no íntimo. Não é a gente que faz isso ao questionar o quão nocivo é considerarem ceder consentir.

Homens e mulheres precisam detonar essa dinâmica sexual que coloca as mulheres no lugar de pessoa que cede, porque isso alimenta a visão dos caras de que insistir faz parte do jogo, que pode continuar insistentemente porque ela está fazendo charminho, que pressionar é o caminho natural das coisas.

É essencial que a gente combata a reprodução dessa lógica na gente, que a gente aprenda a dizer não, mas é ainda mais necessário fazer a sociedade entender que muitas vezes os caras notam o desconforto, mas insistem porque não se importam, porque foram ensinados que é assim mesmo ou até por considerarem que é assim que é bom, que conseguir após insistência faz a conquista ser mais valiosa.

Noto que a maioria das pessoas se lembra de cobrar que a mulher diga não com todas as letras, ignorando os possíveis riscos que esse não pode representar dependendo da situação, mas esquece de reivindicar que caras respeitem sinais óbvios de desconforto, perguntem mais e notem que a pessoa com quem eles querem transar também é gente, tem seus desejos, seus gostos, suas dúvidas e seu tempo.

A paquera não pode funcionar como um jogo que tem como único perdedor a mulher. E insistir, pressionar e manipular situações para obter o sexo desejado é ver a conquista e as relações sexuais assim.

A paquera tem que ser encarada como uma ação conjunta, na qual os envolvidos têm agência e dizem sim, não, não gosto disso, prefiro assim e têm suas falas consideradas. Só que as relações entre homens e mulheres partem de locais desiguais em que as mulheres são ensinadas a cederem e homens a insistirem, dinâmica que desencoraja que o “não” feminino seja expresso ou mesmo respeitado, já que a negativa pode ser encarada como uma afronta, uma grosseria ou mesmo um desafio a mais.

Para que o flerte seja uma ação conjunta é preciso tentar equilibrar as relações de poder envolvidas de forma consciente. Se há uma dificuldade de mulheres dizerem “não” de forma direta e assertiva, torna-se necessário não só que a gente encoraje mulheres a dizerem, mas que homens tomem a consciência de que é preciso respeitar sinais corporais e comportamentais óbvios, expressos através de uma negativa verbal ou não verbal, aprender quais são esses sinais, caso não saibam, e entender que insistir em um comportamento sexual ao notarem que a mulher agiu de alguma forma para impedi-lo é tentar vencer pelo cansaço. E vencer pelo cansaço não é consentimento.


Texto originalmente publicado na minha página do Facebook. Ele também saiu no site Casa da Mãe Joanna. Se você gostou desse texto, deixe um comentário, compartilhe com seus amigos e me acompanhe pelo MediumTwitter, Sweek, Wattpad, Tinyletter e Instagram.

Calibã e a bruxa: a transição para o capitalismo e sua relação com a perseguição das bruxas

Capa do livro — Arquivo Pessoal

Calibã e a bruxa, livro escrito pela historiadora feminista Silvia Federici, foi publicado pela primeira vez em 2004, mas somente ganhou sua versão em português treze anos depois com uma caprichosa edição feita pela Editora Elefante.

A obra expõe uma análise sobre a transição do feudalismo para o capitalismo sem ignorar a presença das mulheres durante esse período. Assim, representa um contraponto às narrativas predominantes, que encaram a história sem observar o impacto dos acontecimentos nas mulheres e as ações que contaram com a participação feminina.

Quando se estuda um período histórico sem observar a história das mulheres, há um apagamento delas enquanto parte da sociedade e isso resulta em análises falhas que ignoram momentos históricos cruciais. A caça às bruxas, suas motivações e tudo que aconteceu que serviu como base para esse ataque é um desses pontos que passaram batido por diversos estudiosos, incluindo Karl Marx e Foucault.

Silvia Federici apresenta informações sobre a história das mulheres, das lutas coletivas durante o feudalismo, da vida comunal e do controle do corpo pelo Estado que são essenciais para entender as transformações que o capitalismo trouxe, especialmente para as mulheres. A autora expõe como a caça às bruxas não foi algo que aconteceu simplesmente por causa das crenças de uma época, como alguns insistem em dizer, e consegue relacionar a perseguição e a morte das mulheres com a exploração do corpo feminino necessária para a construção do proletariado e para a manutenção da lógica capitalista.

O estudo feito nesse livro mostra a influência de momentos de desequilíbrio econômico e de crises demográficas, como a ocorrida durante a Peste Negra, nas leis e na política de terras e como essas mudanças institucionais e seus efeitos culminaram na caça às bruxas e, por fim, no controle estatal do corpo das mulheres ainda vigente hoje.

Silvia Federici sustenta em diversos trabalhos que o capitalismo se ampara na exploração do trabalho reprodutivo e de cuidado feito pelas mulheres de forma gratuita no seio de seus lares. Em Calibã e a bruxa, ela expõe como o aprofundamento da divisão entre homens e mulheres, a campanha de terror contra elas e a destruição da autonomia e o sequestro dos conhecimentos femininos sobre contracepção e parto foram pontos essenciais para a acumulação primitiva. Elas se tornaram as produtoras de mão de obra, num momento em que o corpo humano era a única máquina disponível, e todas as possíveis funções que elas poderiam assumir fora dessa lógica sofreram uma intensa desvalorização quando feitas por elas.

A institucionalização da violência contra as mulheres, a resistência feminina, o olhar masculino sobre elas e o controle estatal sobre a vida de todos foram os pontos que mais me chamaram a atenção durante a leitura. Essa obra é um mergulho na condição feminina na história e apresenta informações e argumentos essenciais para se entender a misoginia hoje. Sem esquecer, contudo, de analisar também a exploração dos povos originários da América, a escravatura e a colonização, enquanto processos capitalistas.


Você pode adquirir o livro diretamente com a Editora Elefante clicando aqui ou a partir do meu link da Amazon.


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Onde estão as mulheres em nossas referências?

Arquivo Pessoal — foto do livro “Histórias de ninar para garotas rebeldes” — Adquira seu exemplar aqui.

Quantas mulheres nomeiam ruas, parques, avenidas, praças e viadutos na sua cidade? Quantos desses nomes você consegue lembrar sem esforço?

Moro em Belo Horizonte há alguns anos e consegui pensar na Avenida Tereza Cristina, na rua Stela de Souza, no viaduto Henriqueta Lisboa e em bairros com nomes de mulheres da religião, como Santa Tereza e Santa Efigênia. Todos os primeiros nomes que vieram na minha mente eram masculinos, como Afonso Pena, Bias Fortes, Augusto de Lima, Cristiano Machado, Silviano Brandão e Raul Soares. Só depois me lembrei dos bairros Jaqueline, Maria Helena e Juliana.

A dificuldade que tive de lembrar nomes de mulheres ao pensar na ruas, avenidas e viadutos da minha cidade não se deu por eu conhecer pouco daqui ou por mero esquecimento, aconteceu porque elas são minoria. Apenas 16% das ruas da cidade de São Paulo têm nomes de mulheres. Uma pesquisa feita na Espanha em 2007 apontou que apenas 5% das ruas de lá tinham nomes femininos. Já na França, um levantamento feito pelo grupo feminista “Osez le Féminisme!” apontou que apenas 2,6% das ruas parisienses homenageavam mulheres notáveis.

A matéria “Nomes de rua dizem mais sobre o Brasil que você pensa” do Nexo afirma que nas rodovias, um tipo de logradouro que exige bem mais investimento, os nomes masculinos dominam com 98% e que ao analisar os trinta nomes femininos de ruas mais populares do Brasil, somente quatro não eram de religiosas. Já entre os trinta nomes populares masculinos, dezesseis não faziam referência à religião.

Os nomes dos logradouros são uma amostra do apagamento das mulheres como referências, das relações de poder e das forças envolvidas nas decisões políticas. Além da ausência de mulheres e pessoas negras, no geral, vemos também a manutenção de nomes de bandeirantes, que dizimaram indígenas, e de torturadores e ditadores.

Os nomes presentes no espaço público são, em peso, masculinos. Percebe-se como eles são escolhidos de acordo com uma narrativa que privilegia a elite, composta principalmente por homens brancos, e seus ideais da época. Santas, mães e esposas são bem presentes entre as poucas homenageadas por representarem o ideal de mulher que eles apoiam, essa mulher que praticamente só se pode ser branca. Nossas referências não são necessariamente nomes de ruas, mas elas são parte de um todo machista, racista e elitista. Um todo que nos influencia. Afinal, quem são as nossas referências?

Gandhi, Nelson Mandela, John Lennon, Einstein, Tiradentes, Che Guevara, Jesus, Marx, Zumbi e diversos outros nomes masculinos são lembrados toda vez que fazem essa pergunta. Quando lembram de mulheres, falam a maioria das vezes de santas, mães e avós. As nossas referências podem não ser as mesmas dos nomes das ruas, mas ainda reproduzem a mesma lógica de que o espaço público é deles.

A maioria das pessoas cresce sem pensar que a ausência de nomes de mulheres na história é fruto da falta de oportunidades dadas a elas e da invisibilidade dada pela história aos seus feitos. Apesar do machismo — e o racismo e as questões de classe — terem negado educação e acesso para tantas, ainda assim muitas conseguiram ser escritoras, artistas, cientistas, fazer descobertas e lutar por melhorias. Principalmente no século XIX e XX, mas não só.

Conhecer e divulgar nomes de mulheres que fizeram parte da história, mas que são constantemente esquecidas, é importante porque as crianças que crescem sem essas referências acabam acreditando que o papel da mulher é o de subalterna, especialmente no caso de mulheres racialmente oprimidas que continuam sendo referenciadas na nossa cultura dessa maneira mesmo quando se passa a discutir temas como mulheres nos negócios com mais frequência. Que mulheres são essas englobadas por esse termo, né? Isso prejudica a autoestima das meninas e faz ambos os gêneros acreditarem que elas são menos capazes que eles.

Se os nomes que as crianças conhecem como inteligentes, marcantes, desbravadores e criadores são só de homens, as meninas nunca acharão que são boas o suficiente, enquanto os meninos seguirão acreditando que eles podem chegar lá. Se elas recebem menos estímulos que meninos para conhecerem coisas novas e para determinadas áreas, elas são afastadas dessas possibilidades.

Uma pesquisa, publicada na Science, afirma que meninas, a partir dos seis anos, têm dificuldade de acreditar que são brilhantes, apesar de achar isso dos meninos. Outra pesquisa apresenta a informação de que professores dão notas melhores para meninas se eles não sabem que elas são meninas. Ambos estudos mostram como os estereótipos de gênero influenciam na vida e na autoestima delas. Lembrando aqui que há pesquisas que mostram que estereótipos de raça também afetam a maneira que os professores olham para crianças: Crianças negras são mais vistas como “bravas” do que crianças brancas e esse estereótipo atinge mais meninas negras que meninos negros.

Já na infância encontramos obstáculos específicos do nosso gênero e somos, desde muito novas, ensinadas a duvidar de nós mesmas. Uma dúvida que carrega em seu cerne o medo de falhar e acabar servindo como uma prova de que nosso gênero não é bom em algo.

Com a internet e tantas mulheres falando sobre representatividade, autoestima e machismo, surgiu uma necessidade e curiosidade coletiva por conhecer mais histórias de mulheres. As italianas Elena Favilli e Francesca Cavallo perceberam isso e reuniram no livro “Histórias de ninar para garotas rebeldes” uma centena de nomes admiráveis de diversas áreas de atuação.

A obra foi idealizada por elas, mas só virou realidade por causa de uma campanha de financiamento coletivo. “Histórias de ninar para garotas rebeldes” foi o livro que arrecadou o maior valor na história do financiamento coletivo e contou com apoiadores de mais de 70 países. Esse recorde mostra que as pessoas têm percebido a importância de tirar a cortina da invisibilidade da história das mulheres e que muitos sentem falta de conhecer mulheres incríveis. O que é incrível, mas também nos faz pensar em como essa pauta pode ser facilmente capturada pelo capitalismo e por grupos com interesses antifeministas, principalmente a partir das escolhas de homenageadas.

Rainhas, atletas, cientistas, ativistas, escritoras, artistas e até piratas e espiãs recheiam as páginas da obra. Cada nome tem sua história e feitos contada começando com um “era uma vez”, num tom que aproxima o público infantil. Além dos textos, há também a participação de ilustradoras de diversos países.

Um livro encantador que, na minha opinião, peca no título. As histórias contidas nele servem para ninar crianças rebeldes, não só meninas. Sei que meninas são as maiores interessadas numa obra que fortalece a autoestima delas e também imagino que a intenção das autoras é que a obra seja para todas as crianças. Acredito, inclusive, até que há muitos meninos tendo contato com o livro por iniciativa de seus pais, porém, um título como esse reforça a ideia de que há coisas para meninas e coisas para meninos e que conhecer a história de mulheres notáveis não é algo importante para eles, sendo que é essencial que eles também tenham referências femininas para crescerem vendo mulheres como iguais.


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Higui: atacada por ser lésbica, presa por defender-se.

Fotografia de Sebastián Hacher. Na foto, Susana, mãe de Higui carrega um cartaz que diz “Higui, te queremos livre”.

Andando nas ruas do centro de Buenos Aires, entre pixos, lambes e stencils, encontrei cartazes que anunciavam uma manifestação para o dia 17 de maio, dia de luta contra a LGBTfobia. A ilustração de uma mulher com uma bola debaixo do braço e vestida para uma partida de futebol estava em todos eles acompanhada dos dizeres “Libertad Para Higui”.

Continuei meu trajeto de turista, avistei o Congresso, a rua Florida, o Obelisco, o Teatro Cólon, a Casa Rosada e a famosa Plaza de Mayo e segui me perguntando quem era Higui, o que tinha acontecido com ela e porque a queriam livre. No caminho, me lembrei de Rafael Braga.

A resposta veio e com ela tomei conhecimento de um triste caso de lesbofobia e de falhas estatais graves. Eva Anália de Jesus é o nome dela, Higui é um apelido que veio por ela ser goleira, como René Higuita, e apaixonada por futebol. Mulher lésbica, viveu o medo, violência e hostilidade diversas vezes e acabou presa por defender-se.

Durante a adolescência, recebeu pedradas, foi hostilizada, roubada e, em uma das vezes, seriamente agredida, entre gritos lesbofóbicos. Não denunciou por medo, foi embora do bairro de sua família e passou a carregar uma lâmina toda vez que se aproximava da região. No último dia das mães, retornou ao bairro e encontrou um de seus agressores do passado num beco. Ele disse: “Vou te fazer sentir mulher, sapatona mal comida” e a agrediu, junto com outros homens. Eles rasgaram sua calça e suas roupas íntimas e ela buscou a navalha que carregava para se defender. Nisso, matou um dos agressores, mas só soube disso já presa.

Foi achada praticamente inconsciente, machucada e, apesar dos ferimentos, foi levada detida direto para a delegacia. O processo contra ela é cheio de furos processuais. No primeiro documento policial sobre o ocorrido não consta informações sobre o estado em que Higui foi encontrada, por exemplo.

O ato de legítima defesa de Higui a protegeu de um estupro corretivo. Essa violência recebe essa denominação porque os autores estupram a vítima com a finalidade de punir o que eles consideram um desvio numa mulher. Para o agressor, o estupro de uma mulher lésbica “corrigiria” a lesbianidade dela, que pra eles é uma afronta.

Higui está em prisão preventiva por homicídio simples, por ter matado um de seus algozes, numa tentativa desesperada de se defender de um estupro motivado pela misoginia e pelo preconceito com sua orientação sexual. Seus agressores estão livres. Conheci seu nome andando nas ruas de um país vizinho, numa tarde de turismo, mas queria ver a história dela ecoando nas redes, jornais e rodas políticas brasileiras, porque nossa justiça, assim como a da Argentina, é oblíqua e a lesbofobia também faz vítimas por aqui e elas, assim como Higui, seguem invisíveis para a maioria.

Edit posterior: Higui foi absolvida!


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O Mineirão é nosso: o dia que a festa foi das mulheres

Eu, minha blusinha e o Mineirão de fundo.

Era agosto, o Brasil era sede dos jogos olímpicos e eu estava a caminho de um Mineirão que receberia nesse dia o maior público do ano até a data. Na véspera, gastei alguns minutos com uma caneta para tecido escrevendo “Marta, Cristiane, Formiga & Beatriz” em uma blusa branca.

A seleção feminina de futebol estava fazendo uma belíssima campanha: dois bons jogos que garantiram a vaga nas quartas e um jogo mediano em que as principais jogadoras foram poupadas. O estádio estava cheio, bem colorido, encontrei uma moça que carregava uma faixa que divulgava o time em que jogava, minha camisa foi elogiada e conseguimos um lugar bem perto do campo.

Cheguei cedo e pude assistir o aquecimento das jogadoras e observar a arquibancada. Ela ainda estava se enchendo e, diferente dos outros jogos que já tinha ido, era predominantemente feminina. Marta, Cristiane, Formiga, Bárbara e Beatriz em campo fizeram muitas mulheres perceberem que o estádio, num todo, também era espaço para elas e mexeram com o ego de muitos homens que ainda insistem que futebol feminino é ruim de assistir. A modalidade feminina ainda é considerada chata, previsível e sem grandes emoções, mas o jogo Brasil x Austrália, e tudo que seguiu após esse dia, mostrou que não é bem assim. O mesmo time que perdeu do Brasil por 5 x 1, venceu a seleção brasileira nos pênaltis na semifinal, mostrando que o futebol feminino, assim como masculino, tem sua dose de imprevisibilidade e de estratégia.

O jogo foi marcado pela tensão. Passei a partida sentindo falta da Cristiane nas finalizações, já que o gol não queria sair. Formiga, como sempre, parecia estar em todos os cantos do campo. Marta, mesmo muito marcada, buscava oportunidade. Bárbara estava a postos. O Mineirão estava gelado, mas o público seguia gritando Marta, Bárbara e Formiga. O frio apertava, enquanto o tempo da prorrogação acabava e a decisão ia para os pênaltis.

Foi a primeira vez que vi disputa por pênaltis ao vivo. A ansiedade — e o frio — só aumentava e eu não aguentei ver as cobranças do meu lugar, me levantei e fui para perto da saída. Vi tudo dali, ou melhor, senti, já que fechei os olhos algumas vezes durante as cobranças. Bárbara nos salvou e foi eleita Santa por aqueles que são fãs de futebol e alcunhas cristãs, o que não é meu caso. O Mineirão virou festa.

A tensão e alegria se misturaram e seguiram comigo até chegar em Divinópolis, minha cidade natal. Elas foram minhas companheiras de estrada durante todo o percurso e encheram minha boca de palavras e “causos” sobre o primeiro jogo de futebol feminino que vi no estádio. Quando cheguei, o sono não foi tranquilo, porque as narrativas dentro de mim estavam ansiosas para serem contadas.

Nesse dia, eu fui uma mulher de vinte e muitos anos e também a criança que sempre sonhou em prestigiar atletas olímpicos e jogava bola todo dia após a aula. Nesse dia, eu vivi um jogo inesquecível nas arquibancadas.

Encontrei no Museu do Futebol a camisa que a Bárbara usou no famigerado jogo Brasil x Austrália.

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Esse texto faz parte da campanha #MulheresNoFutebol, organizada por mim e pela Francine Malessa. Saiba mais aqui.